Voo para a gaiola.

Eram os atestados de sua autonomia.
Alegrara-se com cada um que chegava.
Teve um tempo em que eles simbolizavam uma independência que tinha procurado por um bom tempo.
Enquanto adolescente não contava às vezes que ouvira: se quer ser livre, pague suas contas.
O primeiro boleto parecia uma carta de alforria.

Eles seguiram vindo.
Às vezes maiores, às vezes menores.
Por vezes ficava feliz com o que lia, por trás dos números estavam a viagem, o carro, as alianças, o cimento...
Logo viraram o arroz, o macarrão, o sabão em pó,...
Não muito depois, as fraldas, o leite...

Passava a temer a chegada de cada um deles.
Paulatinamente foi se dando conta que a cada um que chegava, fechava ao redor dele mais uma barra da gaiola.
Os números o impediam do voar.
A autonomia era asfixiante.

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