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Mostrando postagens de maio, 2012

Eli Eli Lama Sabactani - parte III

 A cabeça coçava. O cabelo estava molhado. O corpo inteiro dolorido. Lentamente o olho se acostumava a penumbra do local. Piscava os olhos com força para tentar forçar a vista a compreender o que era aquilo perto de si. Sentia o meio de suas pernas arder. Como se tivesse sido dilacerada por algo que a invadiu com força. A dor foi superada pelo susto. O que tinha aos pés parecia ser um corpo. - Kadoshi Adonai! Nunca fora a mais devota entre os parentes, mas não podia dizer outra coisa que não aquilo, era seu pai que estava aos seus pés. Só podia. Um grito profundo, agudo e assustado lhe rasgou o peito quando a luz acendeu e confirmou as suas suspeitas. Era o pai, mas estava desfigurado. A cabeça parecia uma bola de sangue. Podia ver de relance a boca dele e não havia ali nenhum dente. O que foi isso? Na porta da sala estava a mãe, com a língua pendendo para fora do rosto arroxeado pela corda que lhe suspendia no chão. Também via pingos de sangue no chão, logo abaixo do ventre materno.

Eli Eli Lama Sabactani - parte II

A portinhola foi aberta com força pelo lado de fora. De dentro saíram todos os ocupantes, molhados de suor. Precisavam de um banho, o cheiro já estava ficando excessivamente evidente. Tobias permitiu que usassem o banheiro de seu próprio quarto, era melhor não aparecessem no quintal, onde o anfitrião tinha construído outro banheiro para usar enquanto estivesse mexendo na horta. Como todo bom alemão era ligado a terra, e era daquela pequena porção de chãoq ue conseguia prover a alimentação de todos sem levantar suspeitas. Afinal se começasse a comprar comida para todos levantaria suspeitas, a comunidade da cidade sabia que ele era sozinho desde que a mulher e a filha morreram em um acidente com um galão de gasolina quando do fim do primeiro grande conflito mundial. Tobias contava que sempre fora previdente e guardava um pouco pois sentia que a Alemanha não aceitaria a derrota, que tudo não passava de um silêncio que precedia a explosão. Sentia que o povo alemão tomaria novamente as red

Eli Eli Lama Sabactani - parte I

A respiração parecia com o motor de um carro. Mesmo sem fazer barulho nenhum, o corpo se transformava em uma grande máquina de fazer sons. O coração tamborilava no peito como se quisesse sair e se esconder dos monstros que podiam ser vistos pela fresta das ripas de madeira que compunham o fundo falso do guarda roupas daquele homem bondoso que nunca haviam notado, mas que milagrosamente se apiedou deles naquele momento onde a bondade parecia ter abandonado o mundo. Louvado seja Iaweh. As quatro pessoas ocupavam um espaço que comportaria muito bem uma criança de dez anos, e só. Mas não se entristeciam pela miudeza do esconderijo. Era o lugar mais maravilhoso que havia no mundo. A casa de três andares, com escada de piso de mármore e corrimão de madeira de lei parecia um passado distante, mas não tão longínquo como os sábados de descanso ao som de Wagner com seus sons fortes e marchas grandiosas. Adorava ver a pequena Hanah exercitando-se no piano. Mas tudo era passado, agora só lhe re