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Mostrando postagens de maio, 2015

A bolha

Carla perdeu o ônibus. Afonso ganhou um celular novo. Era seu aniversário. Jonas engoliu um pouco de água na piscina. Era seu primeiro dia de natação. A mãe se desesperou, ele só tem quatro anos. Kélvia terminou a redação sobre maioridade penal. Sentiu orgulho de si. Kin falou sim. Cho também. Estavam casados. Emerson despediu-se do pai. Uma lágrima escorreu em cada olho. Agora era o homem da casa. Teve medo. Neto assaltou uma mulher no sinal. Gastou o salário dela com crack. Nenhum deles sabe quem é o outro. Cada um deles se acha o centro do mundo. Todos estão na mesma bolha. Mas todos se veem acima dela. Cada um é. Cada um está.

Deveria...

A regulagem direita da braçadeira que suspende a sapata estava danificada pela trepidação claudiante da má constituição da via... O saldo apontava R$ 0,27... O celular com a tela rachada de ponta a ponta marcava onze e meia da manhã. Fluiu três litros de suor em uma caminhada de vinte e cinco minutos a pé. A casa, desarrumada de ponta a outra estava cheia de barro que a obra da frente teimava em jogar por cima do muro dele, mesmo após ter ido lá quatro vezes... Deveria ter oferecido um cafezinho aos funcionários da obra. Deveria ter levado uma Coca-Cola gelada pro mecânico, a quem já pagara mais de seiscentos reais entre mão de obra e peças. Deveria ter entregue o celular para o ladrão que passou de bicicleta ao invés de ter segurado o aparelho e no embate ter derrubado-o no chão.  . .. ... Deveria ter mandado todo mundo tomar no cu.   

Autoimagem

Olhou-se no espelho. Achou-se bela como sempre. Passou o batom vermelho na boca. Duas pinceladas rápidas. Movia-se com destreza. Um biquinho, dois beijinhos no papel para tirar o excesso. Um sorriso cheio de dentes e voilá. Estava pronta. No trabalho tinha a certeza que todos lhe olhavam. Era linda. Ele apareceu. Tirou uma piada e se foi. O outro passou e nem ligou. O terceiro até lhe elogiou. Sabia que era linda. Era óbvio. Todos podiam ver. Almoço chegou. - Cláudio, vem cá... - Que foi Sâmia? - Eu sou bonita? - Claro, claro. - Tem certeza? - Sim sim, você tem uma beleza... olhou para o além a procura da palavra correta... exótica... a palavra lhe escapou dos escrúpulos por um milionésimo de segundo. Não dava mais pra voltar. - Exótica? Como assim? Todos dizem que minha irmã é linda e eu sou a cara dela. - A cara da Karla?! É.... sim sim, claro. - Sério? - Sâmia... é... tá... é.... Meio embriagada pela chateação e pela contrariedade correu pro espelho do ban

A ofensa do erro

Em algum momento da criação tudo ficou decidido. Apontar o erro é sinônimo de ofensa. E das mais pesadas. Não importa se a ideia é ajudar. Ora, como ele ajuda o eu? Absurdo. O acerto se conjuga na primeira pessoa, normalmente do singular, as vezes, e só as vezes, no plural. Já o erro, esse é sempre praticado pela terceira pessoa. Eu não erro, no máximo, sou perseguido. Ou tudo é culpa de quem não tem o que fazer. O erro é do outro, está decidido! Não existem desculpas pra isso. Erro é erro, e não adianta tentar justificar, você errou, eles erraram. Eu? Eu estou certo, e inclusive estou lhe alertando. Eu, faço o que deve ser feito, e as vezes, preciso passar por cima de algumas regrinhas bestas que os outros inventaram só pra me atrapalhar. Ele errou, vocês erraram. Nós acertamos. Eu... sempre acerto.