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Mostrando postagens de 2013

Carlos e Stephany

O preto escorrido dos olhos era a madrugada que acabava. Os olhos inchados denunciavam a noite mal dormida. Em meio a marrons de pele alguns pedaços de branco ainda destoavam no rosto que ia se desmontando. Suavemente com algodão e removedor colocava Stephany para dormir. Teria o descanso merecido, dormiria o sono da beleza que tanto prezava. Enquanto isso, Carlos deveria ir trabalhar. E após um bom banho quente, café com pão, escovas nos dentes e cadarços amarrados lá ia ele pronto para mais um dia de trabalho, feliz, pleno, dual, completo.

A injeção

- Sai do meeeeeeeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. Desesperado ele corria em meio aos carros! Corre aqui, da um pulinho ali, opa! Para de uma vez, e corre mais um tanto! Pernas a todo o vapor. Ainda conseguia escutar a voz deles atrás de si! Continuavam a perseguição implacável. Precisava correr!   - Volta aqui! Aonde você pensa que vai?! As pernas começavam a formigar pelo esforço e pela fraqueza do corpo adoentado, mas tinha que continuar, se parasse eles iriam lhe pegar! Um passo depois do outro, mais um passo, só mais outro... estamos quase lá... vamos, eles estão ficando para trás.... Paff O barulho seco da queda chamou atenção das pessoas no meio da rua.... Lentamente abriu os olhos... tudo parecia ainda meio turvo ao seu redor... Reconhecia esse lugar... O poster do Buzz e do Woody mostravam que estava em casa, mais uma vez no seu quarto... sentiu-se aliviado, mas.... peraí! - Como eu cheguei aqui?! - Ô meu filho... pra que aquele escândalo... Sair daquele j

Confissão

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém... Conte seus pecados minha filha. - Seu padre, eu pequei... pequei por adultério... - É de coração contrito que buscas perdão? - Sim seu padre, amo meu marido, ele me dá tudo o que eu preciso, mas mesmo assim eu acabei cedendo ao desejo... ele era tão bonito e tão.. - É.... tudo bem filha, reze o ato de contrição  e depois vinte Ave Marias e dez Pai Nosso para pedir a mãe santíssima que lhe ensine o amor e a castidade. - Mas... seu padre... o que eu ganho com isso... o correto não seria eu ter que ir até minha casa, arrependida e contar para ele tudo o que eu fiz... contar que mesmo amando a ele me entreguei a outro... - Reze mais dez rosários ... E só depois volte aqui...  - Mas seu padre... eu estou querendo ir lá e contar a verdade. Não estou mais entendendo nada... - Você pode não ter entendido, mas eu entendi... Esses rosários não são por sua traição... Todos temos quedas, todos pecamos, e todos temos o direit

Mandinga - parte III

- Você tem certeza? Uma vez feito, feito para sempre. - Sim dona Nhá Moça! A velha gorda passou-lhe a faca no braço. Com o sangue colhido escreveu os nomes dele e dela no papel, amarrou com os fios de cabelo dela e com alguns poucos dele que conseguira quando entrara de surdina na casa quando viu ele sair com a atual noiva para algum restaurante, sei lá o que... que aproveitasse porque nunca mais aquela vaca teria ele de novo! Ele era dela, e ela precisava lembrá-lo disso. Com uma agulha Nhá Moça colocou os nomes dentro da maçã que havia sido colhida antes do nascer do sol da primeira sexta-feira do mês. Carla enfiou a maçã vagina a dentro e deitou-se na cama de Nhá Moça. O mundo girou, parecia rodar freneticamente. O mundo mudava! Ainda bamboleante a mulher levantou de um sopetão e sentiu-se ardendo. A velha lhe acordara ao arrancar a maçã de dentro de sí, sem pena alguma. Da fruta seca fizeram um suco, com papel, sangue e o que mais tivesse ali. . . . - Quer alguma coisa

O fio de ouro

Da ponta da unha negra e suja do dedo indicador direito marcados pelas verrugas e fungos estendia-se um fio de prata finíssimo. Rígido em toda a sua extensão, mas com as pontas um pouco flexionadas pelo peso de dois barbantes de ouro que seguravam pratos de barro. Com uma sutileza própria aqueles que desprezam o que fazem, fez rapidamente uma gigantesca e perfeita incisão cortando-o de alto a baixo. Do peito e da barriga correu uma espuma cinzenta e outra avermelhada. Habilmente com a mão livre recolheu-as e colocou sobre cada um dos pratos! O fio de ouro envergou! A velha sorriu! A cara de desespero não veio acompanhada de um grito nunca dado, de uma ação desesperada não expressa. Laconicamente perguntou: - Mas você disse que realizaria um deles. O que aconteceu? - kkkkk, nunca se deve comparar sonhos, eles existem para serem vividos e não entendidos, sentidos e não racionalizados, experimentados e nunca pesados! À aqueles que se arriscam a pesar os sonhos, e vende-los só ex

Vícios e virtudes.

Olhava como um cachorro adestrado olha para a carne que está preste a tocar no chão! Era tudo o que queria, mas ao mesmo tempo, era tudo que deveria evitar. Tentou desviar o olhar, mas a boca entreaberta denunciava o desejo latente. Com um ar forçado falou - Sou muito superior a isso. Com um sorriso no canto da boca ela respondeu: - meu bem, o que você tem não é virtude, é juventude, e só.

Mandinga - Parte II

O mundo parecia uma mistura disforme de cores. As lágrimas que lhe caiam copiosamente dos olhos não permitiam o vislumbre completo das lajotas hidráulicas do banheiro que não estavam a mais do que um esticar do próprio braço. O choro não era normal! Era um choro de desespero! Um choro soluçante e salgado! Não se importava nem mesmo em limpar a secreção nasal que escorria até encostar no canto da boca! Ainda vestido jogou-se dentro do box do banheiro. Ligou a água o mais quente que podia e começou a esfregar o próprio corpo. Só aí entendeu que estava coberto. Arrancou as vestes com raiva, eles foram testemunhas de mais uma vergonha! Na pele ainda estava grudado o misto do gozo dele e de sua algoz. - POR QUÊ?????!!!!!!!! Pegou uma pedra pomes que provavelmente havia sido deixada ali pela sua mãe na ultima vez que passara umas semanas lá visitando ele. Esfregou-se repetidamente! De novo e de novo e de novo! O ralo do banheiro ficou rosado, depois o vermelho foi ficando cada vez mai

Mandinga - parte I

- Mermão... que merda é essa? - Macho, de boa?! não mexo nisso aí não. - Agora lascou, só tem nós dois... tem que liberar o corpo pra família, já tá uma putaria de gente ali fora, até imprensa já chegou... - Sei não má... sei não... - Vamos tirar na sorte, eu quero cara. - Tá, fico com coroa. - Puta merda Zé... se eu sou cara, óbvio que tu é coroa.   - Ou má... sim, falei só pra enfatizar, pra dizer que to concordando, égua... - kkkk, beleza, vamos lá Lançaram a sorte. Atentamente observavam cada girada que a moeda dava - zupt - A moeda é minha. José, você pega a cena e o Luciano o corpo.   - Ô sargento... ta bom... sim senhor. A sala cheia de badulaques, farelos de gesso provavelmente provenientes de entidades por todos os lados misturados com búzios, sangue, muito sangue e pedaços queimados de alguma coisa que achavam ser uma mesa ou uma cadeira, ainda não tinha entendido completamente. Duas massas sangrentas pintavam o chão numa tonalidade de verme

Amigos?

Bom dia! Bom dia! Tudo bem né? Tudo! E você? Ah, comigo ta beleza! Massa, tranquilo então né?! Sim sim, tudo tranquilo. De resto, tudo em cima né? Graças a Deus! Ô rapaz, pois beleza então! Bom te ver viu. Legal, feliz em te ver também. Pois bom dia viu? Beleza! Bom dia pra vc também! Falou! Boa sorte aí! Até logo! Até! . . . . .

Cantando a vida!

"Nosso suor sagrado É bem mais belo Que esse sangue amargo E tão sério E Selvagem! Selvagem! Selvagem!..." - Opa!!! A velhinha olhou pra ele com aquela cara de meu-deus-esse-menino-é-doido! Tirou um dos fones de ouvido, a musica estava tão boa e tão alta que nem se tocava que estava cantando junto e no mesmo volume! Continuou seu caminho! Continuou sua canção! "Temos nosso próprio tempo Temos nosso próprio tempo" Abraçou a mãe, cantou junto do irmão! Bolou no chão com o cachorro! Eles meio estupefatos! Do irmão veio a pergunta: - menino tu tava onde, tava namorando era? - não não, tava trabalhando! Era verdade, e voltara a pé no sol cearense de meio-dia! Mas cantava! Cantava ao trabalho, cantava aos amigos, cantava aos problemas, cantava aos amores! Estava vivo! Sentia-se vivo! O calor causticante do caminho traçado a pé só lhe mostrou o quanto era gente, o quanto podia sentir! Então! Que se exploda tudo! Não não, que não se explod

Cerol

Demorou um pouco, foram dois ou três percalços, mas conseguiu! No começo tentaram lhe empurrar para baixo, mas juntos continuaram e pronto: estava lá! Sentiu a brisa gostosa tocando-o por inteiro, curtia cada momento, as vezes um ou outro puxão lhe fazia acordar e se mover um pouco. Contudo, o que gostava mesmo era de poder ficar só curtindo o ventinho manso e o sol batendo, aquilo é que era vida. Mas ele apareceu, não conseguiu reparar em mais nada. Conseguiu se aproximar dela, até o vento devia ter entendido o recado o se colocado favoravel aos dois. Se cruzaram, por um instante mágico sentia que estavam conectados, mas... pera lá, o que é isso?.... ela foi ficando cada vez mais longe, mais distante, lá de baixo começou a ouvir um misto de risadas e choro. - Meu deus agora a pouco tudo estava sobre controle e agora... e agora... Vagou ao sabor do vento, angustiado esperava, sabia que uma hora a brisa iria diminuir, e nessa hora... cairia...  

Vício

Suspirou por entre os dentes cerrados. Inflou o peito, arfou mais uma vez, largou o celular. Abriu a geladeira... - kkkkk, para com isso, vai. - o que é que posso fazer? Adoro o seu sorriso! - Sim, mas não pode... É.... Que foi que vim pegar aqui mesmo.... Água, isso. Bebeu um pouco, tentou refrescar a cabeça. Pegou o celular. Olhou mais uma vez para aquele número. Não podia ligar, acabaram de se falar... Lembrou do sorriso dela, sorriu. Ela era a sua cocaína. Mal o efeito da última conversa, da voz ao outro lado do telefone, o eco daquela rizada passada e já lá estava ele de novo e de novo pensando em ligar, em correr lá, em inventar alguma desculpa para vê-la. Era um vicio, e ele o cultivava sem medo!

Instituto Tanatos

Cara senhora, informamos que o corpo de seu filho Marcos Deodato Damasceno encontra-se em nossas dependências e já preparado para ser recolhido. Cordialmente, Gabriel Arruda   - Diretor do instituto Tanatos. p.s.: Informamos que em caso de não resposta desta missiva, em uma semana o corpo será descartado. Sem reparar, repetiu o "cesto" de passar o indicador direito sobre a testa. Essa semana promete. Já é a quarta carta e ainda estamos na quinta-feira . Seu Gabriel. Ô seu Gabriel, tem que assinar esses papel aqui pra poder desovar os bicho. Já ta tudo pôde. Seu Mariano, pare com isso. Os corpos devem ser levados para a incineração e depois as cinzas devem ser levadas para o setor de adubamento. A gordura recolhida para o combustor da fornalha e os gazes apreendidos pela tubulação enviados para o setor de abastecimento... Quantas vezes preciso repetir o procedimento? Esse velho me cansa. Por que não pula na câmara logo e livra o mundo dessa cara feia

Tempo

Começo a apreciar o todo monocórdio das tardes de domingo. Dei por mim saudoso das manhãs de sábado passadas dentro de oficinas mecânicas. As semanas corridas de aulas e atividades, de estudos, leituras e pesquisas. Da demora chata para encontrar a informação tão caçada no meio dos papeis poeirentos dos arquivos. O tempo está passando e é preciso viver. E me vejo querendo viver cada parte da minha vida. Errando, sofrendo, lutando, sorrindo e amando. Amando um amanhã que está por chegar, mas mais ainda o presente que me é dado. Que me é imposto. É preciso viver. http://letras.mus.br/pink-floyd/63078/traducao.html