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Mostrando postagens de agosto, 2018

Voo para a gaiola.

Eram os atestados de sua autonomia. Alegrara-se com cada um que chegava. Teve um tempo em que eles simbolizavam uma independência que tinha procurado por um bom tempo. Enquanto adolescente não contava às vezes que ouvira: se quer ser livre, pague suas contas. O primeiro boleto parecia uma carta de alforria. Eles seguiram vindo. Às vezes maiores, às vezes menores. Por vezes ficava feliz com o que lia, por trás dos números estavam a viagem, o carro, as alianças, o cimento... Logo viraram o arroz, o macarrão, o sabão em pó,... Não muito depois, as fraldas, o leite... Passava a temer a chegada de cada um deles. Paulatinamente foi se dando conta que a cada um que chegava, fechava ao redor dele mais uma barra da gaiola. Os números o impediam do voar. A autonomia era asfixiante.