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Mostrando postagens de novembro, 2016

Faça-se a vida...

Que fim terá levado a traída Bárbara? Para onde foram o Alberto, a Bia, os amores narrados e nunca conclusos, em que lugar andaria aquele coitado de quem riram na escola? A merda no meio da sala terá sido lavada? Viu-se no meio de um mundo de personagens e narrativas. Percebia que bastava uma simples vontade comprimir as teclas corretas e uma vida poderia se esfacelar como o vidro do carro ao tocar da mão, bastava seu querer e o homem desistia de se jogar do alto do prédio para tentar recomeçar, mas onde estaria? Teria ele enfim se redimido, comprado o apartamento e buscado desfazer tantos males? Percebeu-se um irresponsável. Dera-lhes vida. Por um breve instante lhes deu toda a atenção. Todos os outros ficavam de lado para que um novo pudesse surgir... Sentiu-se déspota. Teve saudade e pena de cada um... Por fim sentiu medo. Era mais seguro nunca mais escrever. A escrita lhe tornava um aprisionador de palavras e de sujeitos possíveis.

Uma balada de adeus.

Os olhos perdidos não tem nenhuma ruga. As mãos ainda gulosas de vida sustentam os queixos ainda incrédulos. As mochilas nas costas entregam que ainda estão em formação. Ainda tão jovens já sendo provados pelo crivo da vida. Ao longe um som de violão e vozes agudas e embargadas cantam uma baladinha que fala de saudade. Dessa vez não apontam para a falta de um amor que os arrebate. Tão mal cresceram ja tem uma parte de si podada. Aprendem com a dor mais doída de todas uma grande verdade, por incrível que pareça não são invencíveis. A vida é um instante, as vezes mais breve as vezes mais longo. Todos pareciam achar inacreditável que entre aqueles que pranteiam não sobrassem rugas, peles flácidas e mágoas... Mas a morte pode até ter suas preferências, mas ela ainda gosta de nós surpreender.

Verdade gástrica.

As rugas saltadas na testa já eram cada vez mais marcadas. O olhar franzido, a boca arqueada e acima de tudo o gosto de vômito na boca não lhe deixava esquecer... A vida era feita de contas, de compromissos, de metas, de fingir estar tudo bem e de se fazer forte frente aos outros. A verdade latente estava para além das palavras ou do riso falso. Queria dizer que era como uma balada clássica do Bob Dylan mas nada lhe expressava melhor que o eterno Marvin de Nando Reis anunciando que agora era só ele e que de uma hora para a outra sentia todo o peso do mundo em suas costas. Esperto era Schopenhauer e seu eterno pessimismo...

A roupa

Ainda com a cara meio emburrada o pequenino vestido de bermudão azul, camisa branca e suspensório olhava para o avô com uma chateação latente. - Diga meu netinho. O que lhe incomoda tanto? - Vô, eu até entendo que eu esteja dentro dessa roupa, fantasiado pela minha mãe, mas o senhor ficou aqui sentado, aceitou a primeira roupa que ela lhe trouxe e ainda fica aí com esse sorriso bobo. - E que motivo eu teria para não sorrir? - Ora... Ela fez com o senhor o que quis. Cadê a sua vontade nessa escolha? - Meu jovem... Minha maior vontade era aproveitar essa noite de festa. - E como você pode aproveitar assim, sem nem ao menos estar com a roupa que quer? - Hahaha, é isso mesmo. Mas eu poderia escolher estar com a roupa que eu quero é toda vez que olhar para a sua avó ver uma cara emburrada, ou deixar que ela escolha e trocarmos sorrisos. - Mas e a sua vontade? - Ora, mas a minha maior vontade não era aproveitar essa noite?! Qual melhor acessório para um dia feliz do que um sorriso.

O trilho e a encruzilhada.

Era a quarta vez nesta mesma semana que se via no meio de um lapso temporal. Vivia o presente na mais plena certeza de que em algum momento passado ja havia visto aquilo... Os sonhos que outrora pareciam um emaranhado estranho de pessoas e situações, que o colocavam inclusive em lugares onde ainda não tinha estado, naquele microssegundo parecia fazer sentido. Em não menos que um instante tudo passava e voltava a viver o fluxo normal. Geralmente fazia de conta que nada havia acontecido e continuava, contudo, eles vinham ficando cada vez mais frequentes e isso lhe despertava uma inquietação raivosa... Será que afinal das contas estava tudo dentro de um único trilho ou seriam todas as encruzilhadas de sonho-memoria-presente um misturado de situações que o subconsciente juntava aleatoriamente? Não sabia, e na bem da verdade, temia saber.