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Mostrando postagens de setembro, 2017

Mais uma manhã na trincheira.

A manhã amanhecia em algum lugar acima das nuvens carregadas e da poeira que nunca assentava por completo por ser excitada de cinco em cinco minutos pelos bombardeios. Dentro da trincheira só havia um sentimento: Medo. Mesmo o corajoso do cabo Daciolo não nos enganava. Gritava sempre para tentarmos avançar porque não queria morrer ali dentro da trincheira, sabia que éramos a unica chance dele e que na hora da corrida assassina ele estaria alguns passos atras de nós. E todos sabemos, na guerra não é necessário ser o melhor, basta ter alguém para levar a bala no seu lugar. Viemos para a guerra certos de que tudo seria rápido, mas ela já se arrasta há anos. Pensávamos em voltar heróis, em arrancar a cabeça do inimigo, receber medalhas, visualizávamos um futuro onde as mulheres fariam fila para dançar conosco no baile. Hoje, sujos de merda, de urina e de uma lama que só as trincheiras tem, feita de mistura de dejetos mais abjetos possíveis, vísceras humanas e de ratos, alguns vermes te

A prisão dos outros e a procura da liberdade.

Os direitistas chamavam-me de comunista, esquerdopata, viado enrustido, doutrinador. Disseram que eu escolhi o lado do mal e não o da família, da moral e dos bons costumes. Os de esquerda me disseram que eu deveria sentir vergonha por não ter tomado partido de forma mais enfática, por desviar a atenção diante da verdadeira causa revolucionária... Alienado, lumpemproletario, capacho do sistema, ... A cada palavra que queria falar saia-me um silêncio. Disseram que era porque não tinha nada a dizer. Depois de tanto apanhar aprendi a guardar, a não falar, e fui-me enchendo de tantas palavras não ditas, e das sobras daquelas que eram mal ditas... Estufado o peito, precisava aliviar a pressão. Aliviei-a pintando a parede atrás do meu corpo com sangue e viceras arrastadas pela bala que enfiei no coração. Morto admirei-me por reencontrar tanta gente de quem eu sentia falta. Busquei um abraço. Mas antes que eu pudesse terminar de falar me disseram: como você pôde querer morrer quan