Mais uma manhã na trincheira.

A manhã amanhecia em algum lugar acima das nuvens carregadas e da poeira que nunca assentava por completo por ser excitada de cinco em cinco minutos pelos bombardeios.
Dentro da trincheira só havia um sentimento: Medo.
Mesmo o corajoso do cabo Daciolo não nos enganava. Gritava sempre para tentarmos avançar porque não queria morrer ali dentro da trincheira, sabia que éramos a unica chance dele e que na hora da corrida assassina ele estaria alguns passos atras de nós. E todos sabemos, na guerra não é necessário ser o melhor, basta ter alguém para levar a bala no seu lugar.
Viemos para a guerra certos de que tudo seria rápido, mas ela já se arrasta há anos.
Pensávamos em voltar heróis, em arrancar a cabeça do inimigo, receber medalhas, visualizávamos um futuro onde as mulheres fariam fila para dançar conosco no baile. Hoje, sujos de merda, de urina e de uma lama que só as trincheiras tem, feita de mistura de dejetos mais abjetos possíveis, vísceras humanas e de ratos, alguns vermes teimosos e água imunda; só queremos voltar.

Não há heroísmo na  guerra, apenas felicidade em sobreviver. O heroísmo quem faz são os que cá não estiveram e escrevem sobre o que fizemos a partir da memória dos nossos velhos que escolhem o que lembrar.
Não há gloria, apenas sobrevivência.

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