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Mostrando postagens de abril, 2018

23 de abril.

Pediu-lhe a graça. Não buscava a vingança ou a destruição. Não lhe movia o sentimento negativo muito menos o desejo de demolir ao outro ou aos seus feitos. A catequista lhe ensinou que deveria dar a outra face ou perdoar setenta vezes sete, até tentava, mas doía muito ser ofendido para poder perdoar. Seu amigo lhe falou sobre carma, sobre suportar a dor, parecia tão resignado... Não lhe apeteceu. Também nunca quis mover as forças da natureza para atacar como a melhor defesa. Isso era só trocar a dor. Deixaria de lhe doer a ofensa recebida para lhe doer o remorso do mal impingido a outrem. Um dia encontrou Ogum. Nunca mais parou de repetir: " Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu

Tecendo o amanhã.

Escreveu, planejou, correu, alinhou, julgou, suspendeu,... João Cabral de Melo Neto dizia que galo sozinho não tece o amanhã. Sua sorte era que o amanhecer era inevitável. Era uma força, uma potência da natureza imparável. Enganou-se todas as vezes que acreditava criar o amanhã. Ele sempre viria. Esforçasse-se ou não. Era passageiro de uma viagem não programada para canto algum. Mas era humano, demasiadamente humano. Precisava iludir-se com a ideia de que tudo fazia sentido. Por isso, implorava a Iansã, senhora dos ventos e das tempestades, traga as chuvas, a fúria a força e a valentia. Xangô meu pai, em tuas mãos a justiça, n as minhas, apenas os calos.

Campeão

Amanheceu antes do sol. O corpo ainda acusava sono. O trânsito invariavelmente cheio fazia o relógio escorregar o ponteiro menor de uma maneira paradoxalmente mais veloz que os pneus da condução. A voz que quase não saia da garganta era grossa como areia raspando as paredes sob a pressão dos pulmões. Mas fora brindado com um nascer do sol estupendo. Era igual ao de quase todos os dias, e por isso mesmo era inigualável. A demora, ja não mais assustadora serviu pra compensar alguns minutinhos do sono não respeitado da noite anterior. A voz entregava que a noite fora feliz. Gritara com força para comemorar, era um campeão!

Alijado Aleijadinho

As meias molhadas. Céu confuso. Corpo cansado e peito confuso. O silêncio e os ouvidos cheios. Nas cordas a filosofia. Carpe Diem dizia a tatuagem mais rasa que o pigmento que manchava a pele. Combater o bom combate cravado fundo na alma como espada de fogo em pedra de manteiga. Barroco, essencialmente barroco.