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Mostrando postagens de janeiro, 2015

Dama da noite

A mulher passou-lhe o pano no traseiro. Suavemente limpava o melado que o homem havia deixado. Era o quinto da noite. E todas as noites eram assim. Pelo menos desde quase sempre. Tinha poucas lembranças de antes disso. Lembrava de folhas, de outros, de tiros, muito barulho e confusão. E todas as noites passaram a ser cheias de cheiros, de homens e de melado. Entre um e outro ganhava um pedaço de açúcar e duas bananas. Mas teve que se acostumar a pintar a boca e por um cheiro, eles pareciam gostar mais assim. Aprendeu a por um cigarro na boca. Ganhava mais banana quando os homens sorriam. A confusão encheu a casa. Um grupo de vinte homens invadiu o lugar. A correria de peles descobertas por todos os lados. Homens de calças arriadas pulavam pelas janelas mas logo eram detidos pelos outros homens armados. Os sons, as roupas e os objetos que os homens tinham nas mãos lhe levaram de volta a ultima vez que vira sua mãe. O desespero tomou conta de Polly. Lançou as patas cont

O mártir - parte II

O salão gigantesco de mármore e ouro espelhava a luz do sol que entrava pelas portas laterais, não mais cobertas pelas gigantescas cortinas de tecidos finos.  Nem bem os olhos se acostumaram com a claridade da sala e ele sentiu o braço ser pegue com força pelas mãos suaves de seu senhor.  -  Sebastião, preciso de você. Chegaram-me notícias perturbadoras e em meio ao que se anuncia quero-vos ao meu lado para que tenha alguém de confiança em quem possa apoiar meus braços cansados após a execução da justiça. - O que acontece meu amado senhor? - Apenas prometa que estará ao meu lado.  - Certamente que sim. É meu juramento de vida estar ao lado do imperador de Roma. Verter meu sangue para que o vosso seja preservado. Entregar minha carne em oblação para que a vossa permaneça imaculada.  - Todos os pretorianos me prometeram isso, mas... sabes que é mais que um mero soldado para mim.  - Sim, bem o sei meu senhor, e me honra sabê-lo. - Sabes que nunca temi a justiça. O sangue co

O ventre gelado. A noite de chamas.

O frio era extenuante. A breve caminhada entre as casas cansou-a como se tivesse passado metade de um dia inteiro nos campos de trigo. Mas a causa era justa. Precisava atender ao chamado de Helga. A velha amiga há muito tentava ter uma criança. Frida já fizera de tudo que sabia para ajudá-la, ervas, chás, banhos, até mesmo receitara a frauda suja de um bebê recém nascido amarrada ao ventre para despertar as entranhas da amiga, e nada adiantara.  Era triste ver a amiga padecendo de tamanha expectativa, ainda mais com toda a cobrança da família de Matheus, há tanto tempo senhores de vastas historias de guerreiros poderosos. Sentar a mesa com algum dos Hammult era a certeza de que alguma história sobre um dos seus parentes que estaria na mesa de Odin esperando pelo Ragnarok... Apesar de que, ultimamente alguns haviam cessado esses assuntos e até repreendido de forma condenatória qualquer menção ao nome dos deuses por causa de um tal deus carpinteiro, ou deus pregado, ou algo assim.  Nã