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Mostrando postagens de março, 2013

Caleidoscópio - parte final

Sentiu o gosto de sangue na boca. Cuspiu o liquido vermelho no tapete que cobria o chão da sala velha. Tentou levantar, sentiu o corpo inteiro dolorido. Sentiu suas entranhas rasgadas. Apalpou-se lentamente sem saber se queria ou não identificar o que provocava aquela dor lancinante. Mas teve de deparar-se com a dura realidade.  Estava nua, ou, melhor dizendo, tinha ainda dois ou três trapos de pano mas que nada cobriam. Os dedos machucados esmiuçaram a haste de metal e enfim se deu conta, o maldito Alex havia lhe enfiado um castiçal no cu.     Com dificuldade levantou-se, mas nem chegara aos primeiros passos e seu olhar, já se acostumando com a penumbra viu a poltrona maldita em que ele sempre estava. Teve medo. Chorou sozinha. - Até que enfim a vagabunda acordou, pensei que não fosse mais se levantar. Você deve ser maluca de vir aqui ainda suja de sua noite de safadeza para manchar a memória de meus pais.   - Não, eles nos queriam juntos, eles nos queriam uma única e

Caleidoscópio - parte II

A luz neon refletia nas camisas brancas e nos dentes amarelados escancarados pelo álcool. Sandra jogava-se freneticamente ao som da batida rítmica do sucesso do momento. Nem ligava direito para o que estava tocando, só reconhecia o atual hit pela quantidade de pessoas que acorriam para dentro da pista. Adorava o suor salgado escorrendo dos corpos, saltando a cada bum que a musica dava e que levava as pessoas a pularem cada vez mais freneticamente.   Mais um língua, mais um abraço, mas uma marca de amassado para a camisa branca que propositadamente escolheu a fim de que ao longo da noite fosse deixando um pouco mais a vista, despertando o desejo e a vontade de aprofundar os beijos rápidos para uns abraços mais apertados e um pouco mais de corpo se esfregando no outro ao som da batida rápida e frenética que prenunciaria a festa que daria junto com ele quando estivessem sozinhos. Mais álcool, mais dança, mais beijos... e um pouco mais de álcool.

Caleidoscópio - parte I

A sala estava escura, Alex estava sentado na cadeira bem próxima ao canto esquerdo da grande sala da casa de dois andares que herdara dos pais. A sua esquerda uma abajur grande quebrava a sombria noite que se instalara na casa. A sua frente a porta. Queria ver quando ela abriria. Ao lado direito uma pequena mesa com o quadro da foto deles, os saudosos pais. Há anos não limpava o vidro, apenas suas lágrimas caídas sobre o espelho criavam um borrão sobre o lugar onde deveriam estar as imagens dos pais. Se eles estavam turvos sobre a mesa, em sua mente permaneciam o tempo todo vivos. Foi por eles, e apenas por eles que conseguira continuar a lutar quando todos diziam que ele não conseguiria mais nada, quando afirmaram que seu destino seria uma cama de hospício e medicações pesadíssimas. Ele disse não, porque sabia que eles lhe diriam para acreditar, confiar. E sempre que se lembrava de onde chegara começava a chorar, e mais uma vez, as lagrimas molhavam o espelho que cobria a velh

Fo..lembranças...me

FOME, FOME, FOME!! FOMe...FOme... Fome... ela estava tão bonita... o sol ao longe já se encaminhando para o descanso final e aqui, a minha frente, sorrindo na beira da praia ela iluminava as minhas duvidas... As palavras ressoaram pela sua cabeça: - Como eu te amo Mariana, você me faz completo. A voz dela parecia uma canção antiga já ha muito tempo e que de repente, por algum capricho da memória voltou a tona e parecia que nunca tinha saído dali:  - Eu também te amo seu besta. E sorriu, que sorriso lindo. Levantaram-se e se puseram a caminhar. Sentiu a areia molhada grudando entre os dedos, sentiu o vento arrastando pequenos grãos em direção ao rosto forçando-o a semicerrar os olhos. Ela correu, corria e sorria e ele tentava acompanhá-la, mas ela ia cada vez mais longe... Ela estava fugindo... para onde fome... Não! Fome... NÃO FOme... FOMe... FOME!!!