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Mostrando postagens de 2009

Dos jovens marinheiros em terra estranha.

Passei muitos dias sem escrever, mas muito ocorreu. A dor da perca de meu amigo próximo nos levou a uma situação de fragilidade de autoridade. Mas mesmo com todas as dificuldades, navegamos a paragens distantes e belas. Chegamos a uma terra de montes altos e verdes. Terra muito bela, mas de gente séria e preconceituosa, o que faz com que a cidade perca um pouco de sua beleza. Levei meus marujos a uma convenção, os jovens marinheiros viram pela primeira vez uma terra distante e pessoas de outras praias...ficaram tão extasiados que nada mais lhes fazia sentido... Fomos em busca de tesouros, mas a pressão, o medo e o nervosismo fez com que eles voltassem com pouco menos do que esperávamos. Mas foram felizes, creseceram em conhecimento, experiência e sabedoria. Para mim, este é o tesouro. Prometíamos mais glórias, mas dou-me por satisfeitos em vê-los e ajudá-los a crescer.

Venom

Peço perdão, pois não serei hoje, um comandante de um navio alvo, que singra mares de forma corajosa e intensa...hoje serei eu mesmo, triste, fraco, com medo e com os olhos rubros de medo e angústia...sei que muitos poderão pensar ser um exagero, mas hoje fui deixar um amigo, a quem amo, e que tenho a honra de conhecer a 13 anos no hospital, e não sei se ele volta. Engulo em lágrimas essa palavra, mas é verdade. Eu era uma simples criança quando o conheci, cheio de medos, e ele me ensinou a vence-los, a me permitir ser feliz e aproveitar o carinho que tinha pra me dar.... Muitos vieram e se foram espontâneamente de minha vida, mas ele ficou. Os colegas de escola, a quem jurei fidelidade eterna e amizade duradoura se foram...nem sei onde vivem, qual o estado civil...nada. Mas ele ficou. O amor veio e se foi diversas vezes, em brigas ora rápidas, ora vagarosas como floresta depois de um incêndio...Ele ficou. Juntos vivemos momentos turbulentos, narcóticos, alcoólicos e

navegador de estrelas

O barco passeava manso...suave e calmo, a vento leve e tranquilo...passavamos em meio as estrelas. pouco a pouco e lá se ia Órion e sagitário, marchavamos a trote limpo e plácido pelas constelações logo, já fora o zodíaco quase todo... O mar estava calmo, estranhamente calmo, a ponto de ser um espelho tão limpido que era como estar nas estrelas e a paz que ele transmitia era tão grande que acho que dveiamos realmente estar no céu... nunca vi nada mais belo que isso, singrar as estrelas com suavidade e constância... Talvez isso seja morrer, mas algo é certo, me ensinou como é belo viver. Navegar é preciso, viver também é preciso, pois vivo para navegar!

o vento

o vento soprou tão frio...tocou pele de meu nariz e trouche um arrepio por toda a espinha...senti-lhe qual veludo acariciar a pele de minha maçã do rosto, correndo rápido, como água em corredeira; passando, mas deixando...até que preencheu-me os cabelos e os fez marcharem para trás com a força de cavalos em disparada...passeando pelos aneis desfeitos com sutileza e fúria, agora era mais forte...tão forte que me fez abrir os olhos. estava caindo e chorei, não por medo, mas pela força de agulha cortante que o ar fazia sobre minha visão já nao era mais o chao de madeira, mas o ar que estava sobre meus pés, e não podia caminhar, e nao podia gritar, não adiantaria.... caí. mas como foi bom! sentir-me parte do mundo, dos elementos, por um momento, apenas um momento, ate que por fim, veio um lamento quente e maior que o proprio peito... voltei retornei ao barco, molhado, gelado e com medo...será que minha casa não é sobre as águas, mas dentro delas? como fui feliz enquanto nada sabia nem pod

Sempre foi assim

Hoje aportei em uma terra bonita. Cresceu as sombras de uma bela e verde cadeia de montanhas. Pareceu-me que a algum tempo devia ser cheia de água corrente pelo seu centro, mas não sei o porque, mas a água não passava de mero filete. Era uma terra bonita e pelas informações dos moradores era propícia ao plantio de praticamente qualquer tipo de alimento, mas pareceu-me pobre. Mas por ai não paravam as coisas estranhas, logo nos primeiros dias,achei muito bela a forma como o centro da vila é recheado de praças, repletas de árvores e flores - acho que cheguei na época certa da floração - porém, uma coisa estranha aconteceu, em menos de um mês, todas as belas praças foram reformadas, e o pior, pelo que me informaram os moradores, essa era a décima oitava vez que as praças eram reformadas, sendo que ao marchar um pouco mais para o interior - grifo, um pouco, apenas um pouco - deparei-me com casebres pobres e abandonados pelo poder público, sem estrutura que os permitisse uma vida saudável,

Loucos?!

Como somos loucos e esquizofrênicos. Dentro de meu belo barco olhei para suas velas alvas, um pouco manchadas pela gordura que emana da chaminé da cozinha, e pensei como gostaria um barco maior e mais belo, feito por um artesão teleri de alta linhagem. Ao mesmo tempo, na velocidade que só o pensamento possui, me revi, diante de meu barco, no pier, quando esta nem meu era, e como o desejei, como parecia mais alto e alvo, como parecia perfeito, olhava para mim com cumplicidade e desejo...e hoje estou aqui, ao invés de colhendo os frutos dessa simbiose, me sentindo vazio, precisando de mais, de maior velocidade, de maior poder, tudo por que vi outro que era maior e mais belo. Como somos loucos e esquizofrênicos, eternamente insatisfeitos e cheios de sonhos que seguem sempre o referencial do impossível. Se um homem ganha suados 450 reais como fruto de seu trabalho, um outro que consegue 3.000 de sua labuta, deveria dar-se por satisfeito, mas não é isso que vemos. Tudo é referencial? Como s

desleixo

Segundo Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil, existem dois termos que são "tipicamente" lusitanos e que apenas nós que partilhamos de sua língua temos a compreensão total de seu significado. A forma mais clara de um sujeito se apropriar da cultura de outrem é através da língua, pois esta expressa as formas de ver e pensar de dada sociedade, com por exemplo, para os franceses, não existe uma palavra específica para abraçar, há sim um "fechar os braços sobre alguém", que passa longe do sentido que abraço tem para nós brasileiros. Segundo Dércio Brauna, para algumas tribos moçambicanas, não exite o termo pobre, esse é o correlato em nossa língua de órfão, pois para eles, a "riqueza" esta ligada a ter uma familia para trabalhar conjuntamente e produzir o alimento. Sabendo-se disto, as palavras que são apreendidas e compreendidas por nos de língua lusa são - a já tão batida - saudade, que virou até musica de rock meloso, e desleixo! Nós e apenas nós en

Turambar

Esses últimos dias tem sido no mínimo estranhos para este pequeno navio. Após voltar do porto de recife, vimos que a tripulação se desentendera e se entendera sem que nem o soubessemos. Fico feliz que estejam bem, temo pelas feridas que sempre ficam, e por quem resolveu lutar pelo que não merece, mas fico feliz pela atitude de por fim ao comodismo e buscar o que deseja, é assim que vamos pra frente. Também muita confusão tem acometido este pobre comandante, à pouco nada, agora, muito, mas tanto que temos que escolher o que jogar fora. E isso incomoda. Para quem tanto já sofreu por crer que merecia mais, chegar ao ponto de ter que fazer escolhas de forma a tornar seguras essas vitórias, é estranho, mas necessário. E como toda boa e precisa (entenda-se os dois sentidos que essa possui) decisãoi, essa deve ser tomada logo. E já é bom dar um basta e parar de deixar a maré levar o barco. Assumo para mim o título de Turambar que em alto élfico significa Senhor do Destino. Tomarei as rédeas n

Porto

Estes dias, o barco navegou forte, e chegou a praias distantes. Tão distantes que o mar não tinha mais a mesma cor, e o sol queimava de forma diferente. Aportei como quem não sabe nada, não quer nada e não pode nada... Era um povo diferente, uma terra nova, com gente morena e polidez na língua. Cheios de uma altivez que estranhou, mas que me lembrou de casa... Por falar em casa, pensei que estranharia, até, que não gostaria. Mas me senti bem. Me senti com se estivesse no lar.Ela estava lá. é...acho que meu lar é ao lado dela. Tudo pareceu mais aprazível, mais palatável, mais divertido, até mesmo amigável. Gostei de estar lá. Mas minha casa é o mar. É onde sei que ela vai estar. Voltei. As ondas parecem ter perdido um pouco o sabor, mas sei que é questão de tempo até que eu vou a ser do mar. Ele é o mesmo, eu que mudei. Mas voltei, por que esse é meu lar. Por que é aqui que ela está.

lugar algum?!

Estando no meio do mar, reparei nao estar em lugar algum. Não estou em meu país nem no de meu vizinho. Estou em um espaço de transe. Transe que é transito e que é elevação, pois é estar em algum lugar que nao é lugar nenhum. Certeau chama de nao lugar aquele que nao produz significado algum para quem o vivencia, por exemplo o onibus que é apenas um estado de espera, tempo morto entre duas ações... mas parando pra pensar passamos tanto tempo em lugares que são nao lugares que achoq ue nao ha mais lugar nenhum que seja algum lugar, afinal, estamos sempre projetando o daqui a pouco, o "prafrentemente"... Seria isso um lugar comum?

Vômito - Motim!!!

Depois de alguns dias no mar, o balanço da maré ainda incomoda. Pra lá, pra cá...não dá outra: hug... vômito. As marés violentas dias atrás ainda reverberam no estômago como se acontecessem agora. E mesmo mais serena e minimamente equilibrada, a mente teima em precisar por pra fora aquilo que a irrita. Esse dias ocorreram motins, o navio tornou-se o lugar da guerra. O mar se acalmou, mas o barco parece ter sentido saudade da virulencia maritima e lhe imitou...infelizmente de forma bem parecida. Sem perceber, marujos largaram de suas funções mais básicas: beber e cantar alto, porque tinham que limpar o convés!!! Que absurdo, mas houveram ações mais graves, tentaram jogar ao mar aqueles que queriam ser felizes... Houveram outros que se amotinaram do comandante que a muito já lhes avisara - Não sei pra onde vou, mas vou... e o caminho adiante parece ter causado medo. Então reveremos as rotas, reanalisaremos os mapas, mas vamos seguir. Quero todos a bordo, por que este navi é um corpo mui

Faróis

As vezes os mares do pensamento ficam revoltos...ondas gigantescas crescem diante de nossos olhos. Surge o medo... o barco, pequeno tronco cortado de baixo calado -nada diante no mar - vire ante as ondas e nos jogue dentro da imensidão gigantesca da mente - oceano...Ideias confusas e imprecisas, crescem e logo morrem, nos jogando de um lado a outro e de volta outra vez, surgindo e logo indo, apontando o caminho e depois o escondendo, erguendo até quase as estrelas, para logo depois cair na ruina...Mas uma hora elas se acalmam...e pra onde ir, agora que não há mais bússola e que por pouco se sobreviveu...quando não se sabe mais ao certo qual o norte a seguir... Aí aprece ao longe, feixes de luz que passam e voltam, serenos e mostram onde está a orla. Os Faróis. Estes dias encontei o meu, não sei a qual praia me leverá, mas quero continuar em seu encalço - Raymond Williams, traduzido por Maria Elisa Cevasco. Um lugar de calmaria e paz depois de tanta confusão, alguém que sonha o mesmo

"A beleza do morto"

"É que da bem aventurança e da alegria na vida há pouco a ser dito enquanto duram; assim como as obras belas e maravilhosas, enquanto perduram para que os olhos contemplem, são registros de sí mesmas; e somente quando correm perigo ou são destruidas é qiue se transformam em poesia."  p. 110 do Silmarillion. É incrível como essa concepção é via de regra. Convivemos com o magnífico a todo momento, mas o desprezamos. Quanto tempo não passou sem que a obra de cantores que são hoje aclamados pudesse ser realmente vista com o respeito merecido, e esse só foi alcançado depois da lápide.  Como não ficamos vidradíssimos diante de culturas de outros povos que são postas nas telas, mas esquecemos da beleza de nossa própria?  Tudo visto de perto, muda bastante. No alto mar, as praias parecem ser mais belas, o brilho das casas são sedutores, como pequenos luzeiros que suavemente lançam uma mensagem ao vento que sussurra ao pé do ouvido: sua casa é aqui. Só nos damos conta diss

Levantando ancora e esperando o sopro do vento.

Começo hoje esse blog. É ele uma proposta de livre escrita. O título é referência a obra de J.R.R. Tolkien - O Silmarilion, onde narra sobre o povo teleri que vivia a borda do mar, ouvia seu chamado e ali fazia morada, construíram os mais belos barcos de toda a terra e o mar não lhes permitia se distanciar do litoral. Ouviam sempre o seu chamado. Acho que sou assim. Há um mar imenso e desconhecido dentro de mim mesmo: revolto, assustador, fluido como as ondas, e não tenho a menor ideia de sua profundidade. Mas me chama e me seduz, me atrai e não posso deixar de lhe ouvir e contemplando, tentar decifrar. É este mar meu pensamento. Espero navegar por ele, em navio branco, ao sopro do vento, deixando-me levar. "Navegar é reciso, viver nao é preciso". Não podia terminar sem essa.