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Mostrando postagens de novembro, 2010

Bárbara

Eram quatro e cinqüenta e cinco da manhã, Bárbara levantou a cabeça do travesseiro e lentamente se levantou da cama, bem devagar para não fazer barulho. Com olhos ainda sonolentos chegava perto do fogão, ligara o bujão e começava a preparar o café. Forte e doce. Assim como ela. Era assim que se considerava, que sempre se considerara. Ainda criança escutara varias vezes a sua avó lhe dizer que era tão forte quanto seu nome. E cresceu acreditando nisso. Sempre disse para si mesma, eu sou forte. E foi. Foi forte quando se apaixonara pelo primeiro carinha, aquele bonitão do colégio que levou ela pra cama. Já fazia tanto tempo, na época devia ter treze, quatorze..., não mais que isso. Fora forte quando ele disse que ele não a queria mais e que só dormiria com ela se um colega dele fosse junto. E não foi uma unica vez. O ano letivo passou e os colegas também. Foi forte, quando o vídeo foi parar em todos os celulares da escola. Opa, melhor tirar o café do fogo senão vai queimar. Começou a p

Bia e João

O nome dela era Bia, na verdade Bianca, mas ninguém a chamava assim, nem ela gostaria. Ela era linda, tinha um corpo alto e um cabelo bonito, aquele ponto entre o liso e o enrolado, sempre caindo um pouco sobre o rosto, acho que para deixar um certo ar de mistério. Ela sorria, sorria bastante e tinha um sorriso que iluminava o lugar onde estava. Sempre que me lembrava dela, ela parecia estar no meio de um jardim florido, de dia, essa era a cor dela, esse era o tempo dela. Iluminada. Viva. O nome dele era João, ele era o mais legal, todos ao seu redor sempre estavam sorrindo, sempre queriam estar com ele. Ele era um líder, parecia até um daqueles clichês de filme americano, o garoto popular. Talvez não fosse bem assim o jeito certo de apresenta-lo, ele não era tão forte, nem tão vazio, ele sempre tinha algo para contar. Uma história interessante. Um experiência que a vida lhe deu. E eles se encontraram, era lindo vê-los juntos. Eles se completavam, Ela com sua beleza silenciosa e ele co

Chegou

O que você é? Há um ano você era apenas mais um. Um estudante, um namorado. Você brincava a vontade e se permitia sorrir. Você era feliz. Há não muito tempo, você tinha tudo. Você podia se permitir errar e sorrir da merda que fez. Você tinha planos, e eles eram tão bonitos, eles falavam de amor, falavam de futuro, falavam de dois. Quem você era? Você não tem mais tempo pro futuro, ele chegou. Você não viu, nem lhe mandaram um bilhete ou uma carta avisando que ele estava a caminho, mas ele chegou, e lá está você. Não há mais Amanhã, aquele grande, que fala de daqui a muito, você não pode mais se dar a esse luxo, seu Amanhã é amanhã. Ninguém lhe preparou pra isso, e você está só. Não há mais aquele cara grande e legal em que você se espelhava, ou mesmo de quem você as vezes se envergonhava, ele se foi. Agora é você. O tempo passou, chegou a sua vez. Você estudou, se formou, você cresceu. Mas quem te preparou para isso? Quem te ensinou a lidar com esse mundo, grande e perigoso. De pessoa

Pesadelo - aprendizado?!

Era manhã, acordo, pego o café, saio correndo, o ônibus estava incrivelmente mais vago, a sala de aula quase vazia. Meio desesperado pego o celular para ver se essa sensação estranha acontecia só comigo. Que surpresa, a lista telefônica estava reduzidíssima, não passavam de cinco ou seis números, todos de lojas ou instituições. Onde estavam todos? Para onde foram todos os meus queridos? Aqueles que eu amo, mas que nunca tive coragem de dizer, ou que não o fiz por que sempre achei que seria desnecessário, ou vergonhoso de mais? Era só um pesadelo, um maldito pesadelo. Ainda bem que acordei, levantei correndo, peguei o café, entre no ônibus, fechei os olhos e fui dormir de novo.

Ausências do próximo ano

Mais um vez vai chegando o fim do ano. Papais Noeis aparecem em todas as lojas, as ruas se vestem com um brilho vermelho e verde bonito. Um clima de altruísmo parece tomar de conta das pessoas que vão e vem, minimamente mais calmas, mas parece que este mesmo germisinho ataca o bolso que coça por gastar até o pouco que não se tem. Mas não foi nada disso que me inquietou, essas luzes e enfeites só me fizeram lembrar que mais um ano vai terminando e mais uma vez, pessoas interessantes que tive a oportunidade de conhecer e conviver durante dois anos não estarão mais presentes no meu cotidiano. Sentirei falta de alunos e alunas que transmutaram-se em amigos e amigas que deixaram marcas em mim e no meu modo de ser professor. Parabéns a eles que cumprem mais uma etapa, que vão além em seus estudos. Fica aqui um registro de alegria, felicitações e declaração de saudade.

Objetos - Stalybrass

Passamos muito tempo inseridos em lutas cotidianas que não reparamos em questões cotidianas que vez por outra, não sei por que, resolvemos estranhar, e por olhar pra elas de forma nada natural acabamos vendo-a por novos ângulos. Andei revendo algumas fotos e reparei na alegria de alguns marujos com trofeus conseguidos durante a jornada, e ao ver lágrimas de felicidade nos olhos deles e relembrar toda a insônia que os acompanhou na batalha por esses prêmios, vi como aquele pedacinho fino de metal era muito mais do que aquilo. Era um símbolo, sinal de vitória diante de lutas, de dificuldades, era sinal de que haviam conseguidos, era um atestado de que são bons, e muito bons mesmo. Ver isso me levou a tantas questões mas que por agora prefiro deixar apenas uma delas que pelas palavras de Stalybrass ficou assim: “O que fizemos com as coisas para devotar-lhes um tal desprezo? Por que os prisioneiros são despojados de suas roupas a não ser para que se despojem de si mesmos?”