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Mostrando postagens de junho, 2012

Tudo o que era sólido...

Os olhos vinham semicerrados por causa do sol escaldante da rua, cobrindo a vista com o jornal recém-comprado ingressou na porta da igreja grandiosa do centro da cidade. A vista precisou de três segundos para se acostumar ao novo ambiente. A luz dos candelabros segurados pelos anjinhos era a única mais forte do local. Ao seu redor apenas frestas de luz escorriam pelos vitrais das janelas multicoloridas.   Mais calmo procurou a imagem da santa que sua mãe tanto apreciava e da qual o fizera devoto. Por sorte era perto de um grande ventilador, daqueles de coluna com três velocidades. Virou-o para si enquanto olhava para a imagem e meditava sobre os ensinamentos que recebera dos pais. O vento despenteou lhe os cabelos. Arrumou-os uma vez, duas, na quarta resolveu mudar o ventilador de lugar, o calor já passara, estava fazendo frio, sem falar que o constante arruma desarruma já o estava irritando. Tentou virar-se para fazer o que intentava, não conseguiu. O vento soprou com tanta f

Um conto do cólera - fragmento de uma dissertação.

Amanheceu frio. Um dia nublado, com o vento que preconiza a chuva soprando forte e úmido. Sabia que o sol estava lá, bem atrás das nuvens. Fechara a janela, não podia suportar mais aquilo, aquela sensação de frio já o solapava demais, sua carne e sua alma. As lembranças fluíam em uma propulsão veloz e voraz, meio que mecanicamente abotoava a camisa, cobria-se de preto. A casa estava silenciosa, nem se parecia com aquela moradia cheia de vida de alguns meses atrás. A dor fora tamanha que o homem não lembrava ao certo o tempo que se passara desde aqueles dias de alegria. E não era sem motivos, depois de anos morando ali, a partir do ano de 1845 começara a assistir o sucesso da economia da vila. Não era mais um pequeno povoado de passagem. O homem, comerciante, ia todas as quintas-feiras para o comércio do gado, que vinha de Canindé e rumava para Fortaleza. Pouco a pouco, as pessoas que frequentavam a feira mudaram, os pequenos vaqueiros e donos de poucas terras deram lugar a senh

O vendedor

997, 998, 999, 5000.  - Tudo certo Quincas.  -Você quer dizer senhor Joaquim Emanuel de Soloza e Albuquerque Lima II, não?  -Sim, sim, evidentemente senhor Joaquim Emanuel de Soloza e Albuquerque Lima II, o valor está todo aqui, hoje mesmo começo os trabalhos. Em no máximo uma semana estará tudo pronto (assim espero, esses novos ricos são uma merda) entro em contato com o senhor. Mando um moleque em sua casa chamar-lhe.  - Pois muito bem cabra. Ficando pronto mande o papel direto pelo pivete que tenho muito que fazer: navio para despachar, dinheiro para administrar, não posso perder tempo vindo resolver coisas triviais, num sabe?!  - Justo, muito justo senhor, contudo gostaria que viesses aqui diretamente se possível. Sabe como é, é uma papelada importante e não seria interessante que acabasse parando onde não deve.  - Com certeza. Você sabe que só o faço porque devemos reparar esse equívoco histórico num sabe? Sem falar que você prometeu sigilo total.  - Uhum. (Meu

Cicatrizes da vitória.

Estava machucado! A batalha foi árdua. Dois exércitos imensos se chocaram. O som de seus passos faziam tremer o chão e os corações. Sentiu como o homem palpitava, o braço forte e rígido por um instante hesitou. Mas sabia que ele não o desapontaria. Correu com fúria e ódio. Foram horas tensas e rubras, mas eram passado. Cortaram-lhe o couro e o acolchoado, precisaria ser cuidado, batido e remendado, mas estava feliz. As cicatrizes brilhavam e mostravam daquilo que realmente era feito, de um metal duro e forte, o metal dos campeões. Assim sentia-se pleno, sentia-se brilhante. Era um escudo de guerra, um escudo vencedor!