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Mostrando postagens de setembro, 2009

Porto

Estes dias, o barco navegou forte, e chegou a praias distantes. Tão distantes que o mar não tinha mais a mesma cor, e o sol queimava de forma diferente. Aportei como quem não sabe nada, não quer nada e não pode nada... Era um povo diferente, uma terra nova, com gente morena e polidez na língua. Cheios de uma altivez que estranhou, mas que me lembrou de casa... Por falar em casa, pensei que estranharia, até, que não gostaria. Mas me senti bem. Me senti com se estivesse no lar.Ela estava lá. é...acho que meu lar é ao lado dela. Tudo pareceu mais aprazível, mais palatável, mais divertido, até mesmo amigável. Gostei de estar lá. Mas minha casa é o mar. É onde sei que ela vai estar. Voltei. As ondas parecem ter perdido um pouco o sabor, mas sei que é questão de tempo até que eu vou a ser do mar. Ele é o mesmo, eu que mudei. Mas voltei, por que esse é meu lar. Por que é aqui que ela está.

lugar algum?!

Estando no meio do mar, reparei nao estar em lugar algum. Não estou em meu país nem no de meu vizinho. Estou em um espaço de transe. Transe que é transito e que é elevação, pois é estar em algum lugar que nao é lugar nenhum. Certeau chama de nao lugar aquele que nao produz significado algum para quem o vivencia, por exemplo o onibus que é apenas um estado de espera, tempo morto entre duas ações... mas parando pra pensar passamos tanto tempo em lugares que são nao lugares que achoq ue nao ha mais lugar nenhum que seja algum lugar, afinal, estamos sempre projetando o daqui a pouco, o "prafrentemente"... Seria isso um lugar comum?

Vômito - Motim!!!

Depois de alguns dias no mar, o balanço da maré ainda incomoda. Pra lá, pra cá...não dá outra: hug... vômito. As marés violentas dias atrás ainda reverberam no estômago como se acontecessem agora. E mesmo mais serena e minimamente equilibrada, a mente teima em precisar por pra fora aquilo que a irrita. Esse dias ocorreram motins, o navio tornou-se o lugar da guerra. O mar se acalmou, mas o barco parece ter sentido saudade da virulencia maritima e lhe imitou...infelizmente de forma bem parecida. Sem perceber, marujos largaram de suas funções mais básicas: beber e cantar alto, porque tinham que limpar o convés!!! Que absurdo, mas houveram ações mais graves, tentaram jogar ao mar aqueles que queriam ser felizes... Houveram outros que se amotinaram do comandante que a muito já lhes avisara - Não sei pra onde vou, mas vou... e o caminho adiante parece ter causado medo. Então reveremos as rotas, reanalisaremos os mapas, mas vamos seguir. Quero todos a bordo, por que este navi é um corpo mui

Faróis

As vezes os mares do pensamento ficam revoltos...ondas gigantescas crescem diante de nossos olhos. Surge o medo... o barco, pequeno tronco cortado de baixo calado -nada diante no mar - vire ante as ondas e nos jogue dentro da imensidão gigantesca da mente - oceano...Ideias confusas e imprecisas, crescem e logo morrem, nos jogando de um lado a outro e de volta outra vez, surgindo e logo indo, apontando o caminho e depois o escondendo, erguendo até quase as estrelas, para logo depois cair na ruina...Mas uma hora elas se acalmam...e pra onde ir, agora que não há mais bússola e que por pouco se sobreviveu...quando não se sabe mais ao certo qual o norte a seguir... Aí aprece ao longe, feixes de luz que passam e voltam, serenos e mostram onde está a orla. Os Faróis. Estes dias encontei o meu, não sei a qual praia me leverá, mas quero continuar em seu encalço - Raymond Williams, traduzido por Maria Elisa Cevasco. Um lugar de calmaria e paz depois de tanta confusão, alguém que sonha o mesmo

"A beleza do morto"

"É que da bem aventurança e da alegria na vida há pouco a ser dito enquanto duram; assim como as obras belas e maravilhosas, enquanto perduram para que os olhos contemplem, são registros de sí mesmas; e somente quando correm perigo ou são destruidas é qiue se transformam em poesia."  p. 110 do Silmarillion. É incrível como essa concepção é via de regra. Convivemos com o magnífico a todo momento, mas o desprezamos. Quanto tempo não passou sem que a obra de cantores que são hoje aclamados pudesse ser realmente vista com o respeito merecido, e esse só foi alcançado depois da lápide.  Como não ficamos vidradíssimos diante de culturas de outros povos que são postas nas telas, mas esquecemos da beleza de nossa própria?  Tudo visto de perto, muda bastante. No alto mar, as praias parecem ser mais belas, o brilho das casas são sedutores, como pequenos luzeiros que suavemente lançam uma mensagem ao vento que sussurra ao pé do ouvido: sua casa é aqui. Só nos damos conta diss

Levantando ancora e esperando o sopro do vento.

Começo hoje esse blog. É ele uma proposta de livre escrita. O título é referência a obra de J.R.R. Tolkien - O Silmarilion, onde narra sobre o povo teleri que vivia a borda do mar, ouvia seu chamado e ali fazia morada, construíram os mais belos barcos de toda a terra e o mar não lhes permitia se distanciar do litoral. Ouviam sempre o seu chamado. Acho que sou assim. Há um mar imenso e desconhecido dentro de mim mesmo: revolto, assustador, fluido como as ondas, e não tenho a menor ideia de sua profundidade. Mas me chama e me seduz, me atrai e não posso deixar de lhe ouvir e contemplando, tentar decifrar. É este mar meu pensamento. Espero navegar por ele, em navio branco, ao sopro do vento, deixando-me levar. "Navegar é reciso, viver nao é preciso". Não podia terminar sem essa.