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Mostrando postagens de dezembro, 2015

Chocolate e cenoura.

- Alô. Fala. - D? - Oi Tainá. Fala. - Ainda ta pelo trabalho Dimitri? - To sim, mas já to quase saindo. (Meio segundo de silêncio lá do outro lado da ligação) Aconteceu alguma coisa? - (com voz de quem sorria sem graça) Nada nada. É só que eu fiz um bolo de cenoura com cobertura de chocolate que você gosta. Ainda gosta né? - E como gosto! Chego aí em meia hora ta?! Ao fim da noite a boca misturava o gosto doce e salgado de quitute e de suor. Ainda se gostavam, mesmo que não funcionassem juntos - e olha que tentaram - mas funcionavam muito bem quando separados se encontravam por alguns instantes.

Tia Helena estava certa.

Algumas vezes as coisas fogem do lugar, mas na grande maioria das vezes a tia da quarta série estava certa quando falava sobre o tal ciclo vital. Lembro como se fosse mês passado da tia Helena, pele clara, cabelos escuros cortados na altura do ombro e penteados com as pontas para fora, sempre com uma calça e uma blusa folgada em frente a lousa de cimento verde falando com o giz na mão que cada ser vivo segue o ciclo onde ele "nasce, cresce, pode se reproduzir e morre." Sempre aparecia alguém para falar, "ah, mas nem todos se reproduzem" mesmo com a resposta já implícita na própria pergunta. Durante muito tempo me recusei a acreditar que a vida fosse apenas um percurso biológico previamente estabelecido, nunca aceitei a ideia do fado, de um destino a ser percorrido... Mas tia Helena tinha razão. Até pouco tempo lembro que nossa principal alegria era sair com os colegas, fosse para ver um filme, comer alguma porcaria ou namorar. Não faz muito tempo começou uma s

Sonhófago.

A torre de Pisa era bonita, ficava melhor quando tinha ao seu fundo a muralha da China. Paola Oliveira completava o cenário. Virando-se para o outro lado tentava intensamente mas não conseguia escolher qual foto do Paulo Zulu era a melhor. As pontas dos dedos farejavam com ventosas cada um dos objetos ao redor.  As longas e pontudas orelhas giravam a partir de cada um dos cotovelos, ombros, costas e nuca. Ligavam-se a qualquer suspiro de amor ou aceleração de respiração. A sétima orelha captou o sinal. O sorriso gigante cheio de dentes, amarelos de ouro abriu-se de uma ponta a outra da careta. Estendeu os braços de onde saiu uma pele fina, nojenta e enegrecida que lhe permitia planar com o calor dos corpos humanos. Cada um de nós exalava o necessário para que ele nunca estivesse parado.  Achou seu alvo, estava sentado a frente do computador da firma, tinha aberto na tela a página da faculdade particular. Sempre sonhara em ser enfermeiro, tentara seis vezes En

Sementes de anarquia.

Os braços já estavam meio dormentes com o frio do vento cortante que lhe pressionava os braços. O mesmo vento invadia por cima e por baixo da blusa de botão meio fechada/meio aberta. Ia na velocidade da loucura. Na cabeça o capacete não conseguia oprimir as ideias de um mundo justo e libertário que preenchiam aquela mente anarquista. As batidas aceleradas do peito tocavam no ritmo de Pet Sematary. Não lembrava de mulheres ou filhos. Teve muitas e alguns. Cada um tinha ficado com algo bom seu e sempre que podia tentava dar um pouco mais. Não era brigado com nenhuma. Todas chegaram e saíram sabendo o que ele tinha e não tinha a oferecer. Às crianças tentava dar o que tinha de melhor, e não era dinheiro - esse era só um mal necessário para poder sobreviver, curtir, beber, fumar, ouvir,... - Deixava para eles o gosto musical e as provocações de uma outra forma de ver o mudo. Nada de ordens, nada de chantagens com presentes caros e adestramentos sociais... Dava a eles o que tinha d