Tia Helena estava certa.

Algumas vezes as coisas fogem do lugar, mas na grande maioria das vezes a tia da quarta série estava certa quando falava sobre o tal ciclo vital.
Lembro como se fosse mês passado da tia Helena, pele clara, cabelos escuros cortados na altura do ombro e penteados com as pontas para fora, sempre com uma calça e uma blusa folgada em frente a lousa de cimento verde falando com o giz na mão que cada ser vivo segue o ciclo onde ele "nasce, cresce, pode se reproduzir e morre."
Sempre aparecia alguém para falar, "ah, mas nem todos se reproduzem" mesmo com a resposta já implícita na própria pergunta.
Durante muito tempo me recusei a acreditar que a vida fosse apenas um percurso biológico previamente estabelecido, nunca aceitei a ideia do fado, de um destino a ser percorrido...
Mas tia Helena tinha razão.
Até pouco tempo lembro que nossa principal alegria era sair com os colegas, fosse para ver um filme, comer alguma porcaria ou namorar.
Não faz muito tempo começou uma safra abundante de casais trocando alianças no meu ciclo de amizade. Até conversar com aqueles que ficaram de fora da colheita ficou um pouco mais estranho. Eles falam de saídas, nós de louças a lavar.
Do começo do ano até esses dias não um ou dois, mas mais de cinco contemporâneos anunciaram que estavam grávidos. A vida seguia seu ciclo. Já fui até para um aniversário de um ano... Foi estranho me ver no lugar daqueles tios chatos que eu odiava na festas dos meus amigos que iam só pra ficar sentados, bebendo, gargalhando até altas horas da noite enquanto nós ficávamos putos porque a festa afinal era nossa e não daqueles velhos...
O ciclo continuava, o ciclo sempre continua, por mais que nos neguemos a acreditar nele, ou por mais que as relações sociais mudem. Um casal de amigos está em processo de adoção. De uma forma diferente, eles mantém a roda girando.
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Ontem uma pessoa amada morreu...

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