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Mostrando postagens de abril, 2016

Haussá

A mãe alva como a neve. Dela herdou os olhos verdes e o desapego com a aparência. Do pai veio a malemolência baiana. A altura e os cabelos de haussá. Sempre viveu mas pouco conviveu. Estranhava porque os pais dos colegas se apressavam quando ele chegava perto. A adolescência lhe deu um experiência estoica, vivendo em um exílio não-auto-imposto. Refugiou-se nos livros. Conheceu Tostoy, Bakhtin, Heidegger, Fourier, ... Sem ter muito o que fazer foi a tal roda de conversa para debates sociais. As palavras que lhe fluíam da boca foram bem aceitas. Sentiu-se em casa. Foram seis meses perfeitos, até o dia da eleição do conselho diretor. Acusado de "preto imundo" viu todo o restante da história por detrás de uma cortina d'água que lhe encheu os olhos. Assim nasceu e morreu um comunista.

Dia de chuva

Eram três da tarde. O céu negro fazia parecer oito da noite. Ela só queria estar enrolada, em cima da cama, de meia e tudo... quem sabe com uma costela do lado. Ele só queria que aquele dia de merda acabasse. Tinha estudado horrores e mesmo assim a nota foi uma bosta, quem sabe se aquela menina dos sonhos de colegial estivesse com ele hoje, teria onde reclinar a cabeça e chorar a raiva de não ter conseguido. Ela caminhava um passo ligeiro de quem teme a chuva. Ele ia marchando lento debaixo do guarda-chuva ao ritmo da musica que ecoava na cabeça. Juntos esperaram no sinal. Provavelmente eram a resposta que o outro precisava. Pararam um ao lado do outro. Mas estavam a um guarda-chuvas e um fone de ouvidos de distância.

Bons sonhos.

A mente viajada num misto de sono e cansaço. O olhar saltava de poste em poste. Eram os carneirinhos que lhe restavam. Lá fora a vida corria louca ao compasso da pressa. Há uma mão de distância, ele tentou saber o que se passava. Ela estava lá do outro lado. Ele queria descansar. Ela queria esgrimar palavras. Preferiu se deixar ser golpeado e dormir o sono dos derrotados. Afinal, só queria descansar.