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Mostrando postagens de dezembro, 2014

Homens e cães.

As unhas longas e bem pintadas percorreram-lhe a barba rala com um misto de carinho, seriedade e raiva. O olhar pétreo juntou-se ao dele e com a voz professoral Cassandra lhe disse:  - Heitor, Heitor... os homens realmente são como cães... correm atras do que não tem... até acharem que tem... aí como não sabem o que fazer, correm atras de outra coisa. Com um tapa suave encerrou o assunto. Deu-lhe as costas e foi embora.

A pedra quebrada

Pedro, Pedro, Pedro, pedra, pedreira, pedregoso, prendado, perigoso... perigoso, perigo, perigo, perIGO, PERIGO, socorro, SOCORRO, SOCORRO! O safanão que tomou só atormentou mais a mente divagante. Sentia-se em perigo e o perigo era real. A mão do agente manicomial batia com um peso único. Eram escolhidos entre os mais brutos para cuidar da ala dos alienados. A figura esquia, bigoduda e com um cachimbo na boa apareceu pouco depois atrás do homenzarrão, como uma sombra vigilante. Com a ponta do cachimbo mostrou a direção: - Leve o louco para o choque. Tiras de couro fechadas por fivelas metálicas prendiam o seu corpo, não conseguia se mexer, por mais que insistisse. Sentiu o frio cáustico da cuia de metal que colocavam sobre sua cabeça. De soslaio pode ver na outra ponta da sala o velho barbado. Sua barba era alva como a neve dos alpes suíços, tão próximos da Áustria onde estava... sim, não tinha porque temer, não estava mais no Brasil, eles não iriam mais tentar matá-l

Inferno

Era linda. As coxas roliças. O sorriso límpido. O olhar sincero. A pele suave. A mente sagaz. Chamou-a de inferno.  Era o desejo nunca concretizado. Era o que não se podia tocar.  Alimentava-se de dor.  Lavava-se com lágrimas e com elas tornava-se cada vez mais bela. 

O frango e o suor

O dia pra variar não estava quente... chamá-lo assim seria um elogio. O dia estava escaldante. Por sorte levava os óculos escuros no carro e podia enxergar alguma coisa naquela luz esfuziante do meio-dia. O trajeto entre o carro e o mercantil não poupariam os últimos pingos de água que sobreviviam do banho de agora a pouco. Caçou alguma sombra que desse abrigo mas nada... Como diria o poeta, de repente, não mais que de repente sua mente foi invadida. A marcha começara pelo seu nariz. Sentiu o cheiro saboroso do frango sendo assado e temperado de algum daqueles restaurantes, a mistura entre frango, calor e o espírito do domingo levou-o a um mundo que nunca foi. Lembrou-se de cada risada que não dera sentando na mesa de família, compartilhando os pedaços de frango e decidindo de quem seria a asa, a coxa, o peito... da expressão feliz dela recebendo-o no portão ao chegar com um pote de sorvete acompanhado de um – menino, pelo amor de deus, tu sabe que não precisa tr