A pedra quebrada
Pedro, Pedro, Pedro,
pedra, pedreira, pedregoso, prendado, perigoso... perigoso, perigo,
perigo, perIGO, PERIGO, socorro, SOCORRO, SOCORRO!
O safanão que tomou
só atormentou mais a mente divagante. Sentia-se em perigo e o perigo
era real. A mão do agente manicomial batia com um peso único. Eram
escolhidos entre os mais brutos para cuidar da ala dos alienados.
A figura esquia,
bigoduda e com um cachimbo na boa apareceu pouco depois atrás do
homenzarrão, como uma sombra vigilante. Com a ponta do cachimbo
mostrou a direção: - Leve o louco para o choque.
Tiras de couro
fechadas por fivelas metálicas prendiam o seu corpo, não conseguia
se mexer, por mais que insistisse. Sentiu o frio cáustico da cuia de
metal que colocavam sobre sua cabeça. De soslaio pode ver na outra
ponta da sala o velho barbado. Sua barba era alva como a neve dos
alpes suíços, tão próximos da Áustria onde estava... sim, não
tinha porque temer, não estava mais no Brasil, eles não iriam mais
tentar matá-lo... precisava recobrar tudo o que era dele e que
aqueles malditos militares haviam roubado. Justo Deodoro, outrora
visitante constante da casa de sua
famíliaAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHRRRRRRRRRR
Os olhos abriram...
as paredes frias de pedra ao seu redor... pedras... pedras...
Pedro.... PEDRO! Era Pedro, era uma rocha firme, o que fazia ali no
meio dos frouxos de mente e espírito... o que queriam dele? Sempre
fora tudo mas nunca fora nada. Primeiro herdeiro homem de seu avô,
amado como o futuro de um país inteiro... aos dez anos trocado por
outro moleque que não tinha nem a metade de sua capacidade, apenas
por ter nascido na mãe certa... ah aquela maldita... Isabel
conseguiu destruir todo o seu sonho, aquela carola ultramontana, por
que não entendera que não tinha força para ser rainha, por que
ninguém parecia ver que ela era fraca demais? Só ele... e o avô
pareciam enxergar... por isso o velho protelara tanto a saída do
poder... sempre dizia, calma Augusto, colher frutos verdes podem
estragar toda a colheita... Mas o velho esperara demais, deixou a
fruta apodrecer, como pôde fazer aqui com ele? Como?
Pedro... Pedro...
por quê? Não... eu nunca teria sido tão frouxo, eu não sou tão
fraco, eu preciso salvar meu país, preciso retirá-los dessa
ditadura em que lhe enfiaram. Me tirem daqui, me tirem daqui... ME
TIREM DAQUI! ME TIREM DAQUI!!!
O costumeiro
safanão... as mesmas fivelas... o mesmo frio...
E por fim a
escuridão...
- O senhor precisa
entender, senhor... preciso de um nome, não posso simplesmente
enterrar essa criatura.
- Senhor coveiro...
aqueles que entram nesses muros há muito tempo deixaram de ser
alguém.
- Um nome... só
isso...
- Este já está há
tanto tempo aqui, desde que o doutor Freud o desacreditou que já
virou parte desses muros de pedra fria... Chame-o Pedro, e só.
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