O frango e o suor

O dia pra variar não estava quente... chamá-lo assim seria um elogio.
O dia estava escaldante.
Por sorte levava os óculos escuros no carro e podia enxergar alguma coisa naquela luz esfuziante do meio-dia.
O trajeto entre o carro e o mercantil não poupariam os últimos pingos de água que sobreviviam do banho de agora a pouco.
Caçou alguma sombra que desse abrigo mas nada...
Como diria o poeta, de repente, não mais que de repente sua mente foi invadida.
A marcha começara pelo seu nariz. Sentiu o cheiro saboroso do frango sendo assado e temperado de algum daqueles restaurantes, a mistura entre frango, calor e o espírito do domingo levou-o a um mundo que nunca foi.
Lembrou-se de cada risada que não dera sentando na mesa de família, compartilhando os pedaços de frango e decidindo de quem seria a asa, a coxa, o peito... da expressão feliz dela recebendo-o no portão ao chegar com um pote de sorvete acompanhado de um – menino, pelo amor de deus, tu sabe que não precisa trazer toda vida... lembrou-se dos sonos gostosos de barriga cheia e peito orgulhoso de quase explodir de estar ao lado dela numa rede, embalados pelo vento e ficar cinco, dez minutos acordado dentro da rede, mas sem se mexer pra não estragar o sono cansado de quem havia passado por uma semana cheia de estudos, congressos, trabalhos...
O suor fez com que voltasse a si. Caso alguém estivesse a sua frente teria conseguido assistir ao imbecil parado na porta do mercantil, no sol, com um óculos de sol escondendo o olhar perdido e a gota de suor escorrendo lentamente pela testa até pousar acidamente sobre o olho.

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