O fio de ouro

Da ponta da unha negra e suja do dedo indicador direito marcados pelas verrugas e fungos estendia-se um fio de prata finíssimo. Rígido em toda a sua extensão, mas com as pontas um pouco flexionadas pelo peso de dois barbantes de ouro que seguravam pratos de barro.
Com uma sutileza própria aqueles que desprezam o que fazem, fez rapidamente uma gigantesca e perfeita incisão cortando-o de alto a baixo.
Do peito e da barriga correu uma espuma cinzenta e outra avermelhada.

Habilmente com a mão livre recolheu-as e colocou sobre cada um dos pratos!
O fio de ouro envergou!
A velha sorriu!
A cara de desespero não veio acompanhada de um grito nunca dado, de uma ação desesperada não expressa.
Laconicamente perguntou:
- Mas você disse que realizaria um deles. O que aconteceu?
- kkkkk, nunca se deve comparar sonhos, eles existem para serem vividos e não entendidos, sentidos e não racionalizados, experimentados e nunca pesados! À aqueles que se arriscam a pesar os sonhos, e vende-los só existe uma recompensa.

Saiu de lá, olhos baixos, cabelo bem cortado, roupa arrumada... e mais nada dentro do peito.

Semi-viveu, pois só vive de verdade quem tem o poder de sonhar.

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