Mandinga - Parte II

O mundo parecia uma mistura disforme de cores. As lágrimas que lhe caiam copiosamente dos olhos não permitiam o vislumbre completo das lajotas hidráulicas do banheiro que não estavam a mais do que um esticar do próprio braço.

O choro não era normal! Era um choro de desespero! Um choro soluçante e salgado! Não se importava nem mesmo em limpar a secreção nasal que escorria até encostar no canto da boca!

Ainda vestido jogou-se dentro do box do banheiro. Ligou a água o mais quente que podia e começou a esfregar o próprio corpo. Só aí entendeu que estava coberto. Arrancou as vestes com raiva, eles foram testemunhas de mais uma vergonha! Na pele ainda estava grudado o misto do gozo dele e de sua algoz.
- POR QUÊ?????!!!!!!!!

Pegou uma pedra pomes que provavelmente havia sido deixada ali pela sua mãe na ultima vez que passara umas semanas lá visitando ele. Esfregou-se repetidamente! De novo e de novo e de novo! O ralo do banheiro ficou rosado, depois o vermelho foi ficando cada vez mais intenso e as gotas pareciam cortar-lhe a carne! -AAAAHHHHHHH!!!!!

Com o corpo ardendo sai correndo debaixo do chuveiro e correu! Precisava correr igual a um cachorro em dia de fogos! Era uma necessidade de sobrevivência. Não podia mais ficar ali! Precisava fugir dela!

Estragara-lhe os sonhos, fizera-lhe perder o emprego, a mulher amada, os planos de casamento e casa nova! A lua de mel em Praga! Tudo fora embora! E mesmo assim não conseguia parar!

Correu desesperado pela madrugada, pelas ruas vazias! Só os gatos e os mendigos por companhia!

Sentia o chamado dela! Queria-o mais uma vez! Não podia resistir!

Voltou para casa. O corpo em frangalhos coberto por um vermelho escuro de sangue pisado e uma aguinha nojenta que lhe saia da pele arregaçada.

Precisava se vestir, precisava colocar a cueca verde, era essa que ela queria. Precisava por a calça...

Com o corpo ardendo a cada toque do tecido sobre a pele, foi até a cozinha, precisava comer, o corpo alimentado apenas pela dor e a culpa começava a sentir o peso da fraqueza auto-imposta.

-Puta que pariu....

Em algum momento de sua loucura havia ligado o fogo com uma panela cheia de macarrão, mas havia esquecido a faca grande com que cortara os pedaços de linguiça dentro.... a fumaça reinava na cozinha.

Uma profusão de imagens veio-lhe a mente. O corpo mais uma vez ouvia o chamado dela. Hesitante arrancou mais uma vez a própria roupa em meio a fumaça e o fedor! A pele da mão quase pregou na panela quente quando tocou nela! Por um segundo a imagem daquela monstra saiu-lhe da cabeça!

-Será? ...

Fez!

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