Mandinga - parte I
- Mermão... que merda é
essa?
- Macho, de boa?! não mexo
nisso aí não.
- Agora lascou, só tem nós
dois... tem que liberar o corpo pra família, já tá uma putaria de gente ali
fora, até imprensa já chegou...
- Sei não má... sei não...
- Vamos tirar na sorte, eu
quero cara.
- Tá, fico com coroa.
- Puta merda Zé... se eu sou
cara, óbvio que tu é coroa.
- Ou má... sim, falei só pra enfatizar, pra dizer
que to concordando, égua...
- kkkk, beleza, vamos lá
Lançaram a sorte.
Atentamente observavam cada girada que a moeda dava - zupt - A moeda é minha.
José, você pega a cena e o
Luciano o corpo.
- Ô sargento... ta bom... sim senhor.
A sala cheia de badulaques,
farelos de gesso provavelmente provenientes de entidades por todos os lados
misturados com búzios, sangue, muito sangue e pedaços queimados de alguma coisa
que achavam ser uma mesa ou uma cadeira, ainda não tinha entendido
completamente.
Duas massas sangrentas
pintavam o chão numa tonalidade de vermelho que somente os órgãos internos
misturados a pó de gesso e feridas cauterizadas é capaz de alcançar.
Bem, até então conseguia
identificar o que poderia um dia ter sido duas pessoas. Uma mais deteriorada
parecia ser um corpanzil feminino, por isso, de pronto o soldado Luciano já foi
metendo no relatório que era o corpo da dona do estabelecimento a cigana Nhá Moça
que era conhecida no bairro por receber inúmeras entidades, sendo a mais famosa
a índia Pedra Branca que era responsável, mesmo que os maridos não soubessem, por
oito em cada dez casamentos no bairro. Por outro lado, não conseguia entender
por que, se aquela era a cigana, ela tinha um pênis na região genital. Ao lado
dela tinha um corpo que aparentemente era um homem, mas completamente nu, não
possuía pelos no corpo nem genitália... - Puta que pariu! Chega aqui
Zé!!!!! Esses malucos tavam fazendo
alguma coisa que a véia ia virar homem e esse cabra aqui ia virar mulher!!!
Mermão! (empurrando a prancheta com o formulário na mão de Zé, Luciano sai
correndo em disparada da casa! - Eu não fico aqui mais um segundo!
Levando todos que estavam na
frente aos trancos e barrancos, Zé, ainda atordoado pela cena dantesca não
percebeu o ônibus que vinha chegando, muito menos o motorista reparou no PM
meio ensandecido, era brasileiro, estava muito mais curioso com a movimentação
do que com o transito. Não conseguiram parar a tempo, pela lógica, o PM
atropelou o ônibus, mas como isso parecia a mais absurda das loucuras... o
motorista teve que passar três anos na cadeia.
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