O sacrário - parte III
Costelas a mostra... Cabelo desgrenhado... Chão de cimento queimado... Luz de cinco velas azuis e pretas... Uma refeição... O corpo nu da mulher parecia emerso em um transe. Com olhos vazios para o mundo mas aberto para uma outra realidade a mulher comia sedenta. Seu corpo definhado era mostra da fome que aquele ventre carregava. O fedor era imenso. E acima do prato imundo uma foto da criança. Juliano parou por dois segundos, estarrecido com aquela cena com ar de sobrenatural. Não havia crime algum, só uma loucura... A imersão era tão profunda que a mulher nem notou a chegada do policial. Comeu! Com toda a fome que há no mundo, com todo o desejo que há sobre a terra, comeu! Ao terminar o corpo esquálido despencou. A respiração intensa foi dando lugar a curtas e desesperadas tentativas de fazer o ar entrar. Debatia-se. Sem ter o que fazer Juliano assistiu atarantado a cena, até que, contorcida e ferida a imagem sepulcral parou. Com baba na boca e olhos virados, parou. ... Mariana de Alb...