O sacrário - parte III

Costelas a mostra...
Cabelo desgrenhado...
Chão de cimento queimado...
Luz de cinco velas azuis e pretas...
Uma refeição...

O corpo nu da mulher parecia emerso em um transe. Com olhos vazios para o mundo mas aberto para uma outra realidade a mulher comia sedenta.
Seu corpo definhado era mostra da fome que aquele ventre carregava.
O fedor era imenso.
E acima do prato imundo uma foto da criança.

Juliano parou por dois segundos, estarrecido com aquela cena com ar de sobrenatural.
Não havia crime algum, só uma loucura...
A imersão era tão profunda que a mulher nem notou a chegada do policial.

Comeu! Com toda a fome que há no mundo, com todo o desejo que há sobre a terra, comeu!
Ao terminar o corpo esquálido despencou. A respiração intensa foi dando lugar a curtas e desesperadas tentativas de fazer o ar entrar. Debatia-se.
Sem ter o que fazer Juliano assistiu atarantado a cena, até que, contorcida e ferida a imagem sepulcral parou. Com baba na boca e olhos virados, parou.

...

Mariana de Albuquerque Figueiredo e Castro - filha do dono da maior rede de supermercados do país, recém separada de um dos mais importantes advogados do estado, ex-modelo de renome internacional. - A sua entrada súbita no hospital já era o suficiente para atrair a atenção da mídia local, mas, a forma como esta aconteceu foi um prato cheio para as abelhas da informação fútil que procuravam sedentas pelo néctar do dia.
Assim, durante uma semana as manchetes alternavam: "Entre a vida e a morte!", "Usuária de drogas?", "O mistério continua!"

Aumentava a curiosidade do povo dos agentes públicos o sumiço do jovem Matheus, herdeiro de uma das vinte maiores fortunas do país.
A procura se intensificou. Mais uma vez as manchetes mudaram: "Heroína?", "Policia acredita que se trate de sequestro."

...

Mariana acordou. Em meio a fios, tubos e remédios. Estava mais próxima do peso antigo, mas o corpo já não era mais o mesmo.

Arrancava os fios quando a professora chegou no quarto do hospital juntamente ao policial Juliano.

Correria...
Agarram-la....
Gritos...
Lágrimas....
Calma...

Puxando-lhe brutalmente os cabelos a professora entre tapas e cuspes esbraveja.
- A merda com você! Onde está o garoto? Onde você escondeu Matheus? Você está aqui há uma semana, o garoto pode estar a beira da morte.

A verdade pareceu esbarrar em Mariana. O mesmo olhar ensandecido brotou. A força dos enlouquecidos lhe permitiu desvencilhar-se do abraço brutal que o policial dava. Como louca correu para o banheiro, enfiou a cara no vaso e bebeu toda a água.

Por fim, um grito... cru, visceral e verdadeiro:

- MATHEUS?!


(continua...)

Comentários

  1. nowsa... chocante... quero ver a continuação hein?
    Adoro textos que levam esse ar de suspense, de confusão até o última palavra... Très intéressant!

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  2. Pourran, uma viagem muito torta. merecia ter sido contada com mais calma, as 3 partes divididas em pelo menos 6 e mais umas 4 até o fim da historia. tem muita coisa pra rolar aí, vai por mim. ta com cara de romance policial da rocco, eheheh

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  3. caramba. vi nessa mulher a witch do Left4dead. Cara, procura no google ela. Imaginei assim. Tá massa esse mega conto. Tô lendo um atrás do outro.

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