Eli Eli Lama Sabactani - parte III
A cabeça coçava. O
cabelo estava molhado. O corpo inteiro dolorido. Lentamente o olho se
acostumava a penumbra do local. Piscava os olhos com força para tentar forçar
a vista a compreender o que era aquilo perto de si. Sentia o meio de suas
pernas arder. Como se tivesse sido dilacerada por algo que a invadiu com força. A dor foi superada pelo susto. O que tinha aos pés parecia ser um corpo. -
Kadoshi Adonai! Nunca fora a mais devota entre os parentes, mas não podia dizer
outra coisa que não aquilo, era seu pai que estava aos seus pés. Só podia. Um
grito profundo, agudo e assustado lhe rasgou o peito quando a luz acendeu e
confirmou as suas suspeitas. Era o pai, mas estava desfigurado. A cabeça
parecia uma bola de sangue. Podia ver de relance a boca dele e não havia ali nenhum dente. O que foi isso? Na porta da sala estava a mãe, com
a língua pendendo para fora do rosto arroxeado pela corda que lhe suspendia no
chão. Também via pingos de sangue no chão, logo abaixo do ventre materno.
Ao lado do interruptor o homem baixo, mas másculo, com os
ombros largos de lavrador, e com um olhar totalmente diferente, o cabelo
alinhado, lavado e penteado. A roupa, El shaddai, a roupa. Calças e terno
marrom aberto com uma camiseta branca por dentro e uma faixa vermelha pendurada
no braço. Era um deles. Tobias era mais um deles.
A audição ainda lhe faltava pois viu, mas não ouviu a boca
de Tobias se mexer. Alguns segundos depois apareceram mais quatro homens,
vestidos de forma igual. Eram os mesmo de alguns dias atrás.
Por quê? Por quê?
Após rirem alto, os cinco homens começaram a tocar-lhe, a
mexer em seu corpo ensanguentado e dolorido. Pareciam gostar do que fizeram e
não pareceram satisfeitos. Esbofetearam-na, queimaram a planta de seus pés. Abriram-lhe
as pernas. Antes de desmaiar viu o candelabro de sua tia.
Desfaleceu.
- Parabéns Müller, você demonstrou bravura e
comprometimento. Estamos cansados de procurar, mexer e remexer. O Reich precisa
de recursos e está disposto a premiar a todos que o apoiem, de uma cajadada só
você nos entregou três ratos. Uma boa quantia em dinheiro e um pouco de
diversão. Como resposta, a casa é sua, de agora em diante! Que a sua descendência ocupe essa casa por mil anos. Assistam a gloria do
império e a força da raça ariana a fazer o mundo de ratos e mestiços sucumbir ante nossos pés.
Todos se foram. Na casa, apenas Tobias Müller.
Levi correra, com todas as forças que lhe restavam, ouvira o
grito do pai ordenando a fuga! O gemido que se seguiu ecoava na mente da criança
de seis anos. Corria, corria, e quando sentia o corpo contorcesse mais ainda
pelos escarros de sangue que lhe perseguiram nos últimos dias, via, ao olhar
para a poça de catarro e sangue o rosto do pai. E corria! Até onde seu corpo
aguentasse.
:O
ResponderExcluirele era nazista também! que coisa horrorosa!
Você não ia conseguir terminar em final feliz, né? rsrsrs Se existe um final feliz nos contos de Dhenis Maciel é porque não terminou. Mas faz sentido, isso é a vida real, principalmente no nazismo. Infelizmente. Sua escrita está cada vez melhor, amor, estou orgulhosa! Não esqueça de voltar depois, dar uma segunda lida para aparar as arestas, sempre melhora. Daqui a pouco, não mostro mais meus textos pra você! rsrsrsrs
ResponderExcluiroxe, por que não meu amor??!!
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