Eli Eli Lama Sabactani - parte II

A portinhola foi aberta com força pelo lado de fora. De dentro saíram todos os ocupantes, molhados de suor. Precisavam de um banho, o cheiro já estava ficando excessivamente evidente.
Tobias permitiu que usassem o banheiro de seu próprio quarto, era melhor não aparecessem no quintal, onde o anfitrião tinha construído outro banheiro para usar enquanto estivesse mexendo na horta. Como todo bom alemão era ligado a terra, e era daquela pequena porção de chãoq ue conseguia prover a alimentação de todos sem levantar suspeitas. Afinal se começasse a comprar comida para todos levantaria suspeitas, a comunidade da cidade sabia que ele era sozinho desde que a mulher e a filha morreram em um acidente com um galão de gasolina quando do fim do primeiro grande conflito mundial. Tobias contava que sempre fora previdente e guardava um pouco pois sentia que a Alemanha não aceitaria a derrota, que tudo não passava de um silêncio que precedia a explosão. Sentia que o povo alemão tomaria novamente as redias do país e se imporia sobre os inimigos.
O acidente foi cruel, os corpos ficaram tão destruidos que não houve velorio.
Desde lá, Tobias dedicava-se a obras de caridade cuidando de crianças.

Mal conseguiam acreditar na maravilha que era estarem limpos novamente. Todos de banho tomado e cheirando a duas gotas de alfazema, era todo o luxo que podiam dispor. Com um olhar soturno Tobias foi bem direto - Temos que fazer alguma coisa, a comida está acabando e os frutos da horta estão em crescimento, precisamos de comida.
Samuel lembrou que ainda tinha alguns bens escondidos na casa luxuosa que tiveram de abandonar. E se o que Tobias havia lhes contado era verdade, bem podia ser que ninguem tivesse ocupado o local. Poderia ainda ter algo por lá.
Assim ficou combinado, Hanah, a jovenzinha de 14 anos iria com Tobias até a residência dos Zuquerman para colher o que fosse possivel de valor para ajudar no sustento da familia. Optaram por ela por que, segundo Tobias seria a mais facil de esconder, Samuel e a esposa tinham características muito evidentes de sua ascendencia judia, e o pequeno Levi poderia se assustar se visse algum nazista.
Assim o fizeram.

As duas quadras que separavam as casas foram o trajeto mais longo da vida de Hanah, cada passo parecia levá-la ao fim de sua vida. Cada barulho feito ao longo da estrada parecia prenunciar o aparecimento de algum dos monstros marrons que lhe tomariam e chegariam a família. Mas passou.
Chegaram a casa, são e salvos, mal podia acreditar.

 Os olhos encheram-se de lagrimas ao avistar, mesmo que na penumbra a casa onde vivera os melhores momentos de sua curta vida. Percorreu todos os comodos separando todos os itens de valor, ou que pudessem ser facilmente levados para a casa de seu salvador. Lembrava-se dos ensaios no piano de calda herdado da bisavó. A alegria que enchia a familia enquanto os filhos corriam pela grama frontal brincando de pega-pega. O escritorio do pai, onde tantas vezes tivera que vir para dar-lhe boa noite enquanto Samuel estava enfiado nos estudos e nas contas da empresa farmaceutica em que trabalhava. O coração acelerou ao ver debaixo da escada de madeira de lei onde dera seu primeiro beijo em Batstuber, aquele loirinho da esquina. Em baixo, escondido atrás de tres ripas estava o cofre. Combinou os numeros indicados pelo pai. Ali estava, a verdadeira riqueza da família, joias que passaram de pai para filho, das senhoras matronas para as jovens casadas. Eram pedaços mineirais de uma longa historia familiar.  Encehram uma sacola grande com perolas, anéis e brincos de ouro, prata e pedras.
Tobias inquiriu: - É isso? Já conseguimos tudo?
Tornando a realidade a garota consentiu. Ao mesmo momento sentiu uma pancada em sua cabeça. Apagou.
 

Comentários

  1. tadinha dela! gosto desses seus textos em série, mas fico morrendo de curiosidade! :P
    poste o próximo capítulo logo hehehe!

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