Batida
- Dois cappuccinos. Quem pediu dois cappuccinos?
Pegou as duas xícaras quentes com a ponta dos dedos.
Arrependeu-se dois segundos por ter dobrado a manga
direita da camisa.
A gota quente ia deixa a marca vermelha, mas fazer o
quê?
Entregou o líquido a ela, sentou-se e ouviu.
Aonde estávamos mesmo?
- Sim, você também não acha que aquela série da
Globo, mesmo sendo muito bonita não fez jus a obra dele?
Ela falava enquanto enrolava a ponto do cabelo
grande.
...
Encontraram-se quase que por acaso.
Foi a batida de transito mais bem sucedida de suas
vidas.
Ele com a cabeça em outro lugar, não reparou no
sinal que fechava e encostou no carro da frente.
Ela assustada saiu do carro, esbaforida e pronto
para atacar.
Desarmou-se diante do sorriso torto e o olhar de confissão.
Pediu desculpas e disse que o seguro pagaria tudo.
Dezessete ligações depois e ficou sabendo que o
corretor estava em outra ocorrência e demoraria pra chegar.
Ele sugeriu saírem do asfalto e comerem alguma
coisa, afinal era final de expediente e estavam todos cansados... os carros não
sairiam dali mesmo.
O pequeno café de esquina era acolhedor e
aconchegante.
Clarisses, Machados, Tolkens e Martins depois e já
não conseguia lembrar como se conheceram, só adorava estar ali, tendo aquela
conversa. Falando com alguem que quase podia lhe completar as frases.
O café esfriou, não ligaram, sentiam-se quentes pela
companhia um do outro.
"Leave me
out with the waste,
This is not what
I do.
It's the wrong
kind of place
To be thinking
of you.
It's the wrong
time,
For somebody new
It's a small
crime,
And I've got no
excuse."
Só quando o verso cantando pela voz suave da Lisa
Hannigan acabou e a voz aveludada do Damien Rice começou foi que se tocaram do
celular tocando...
O seguro chegou.
Assinaram os papéis.
Deram-se as mãos... pareceu tão inapropriado, mas
foi assim.
Já na luz soturna do poste amarelo chegou em casa.
Abraçou a filhinha e beijou a esposa.
Como precisava daquele beijo.
Comentários
Postar um comentário