O golpe.

O corpo estava dolorido, somatizando um sentimento obscuro e obtuso. Lembrou de Nando Reis e "o dia que roubaram seu carro deixou uma lembrança", lembrou de cada lição aprendida. De cada foto, de cada depoimento, de cada vídeo de sofrimento daqueles que vieram antes de si.
Não a cria a mais preparada, muito menos a mais eloquente, contudo, havia chegado lá por merecimento. As coisas mudavam, assim como na "roda viva" de Buarque, grupos que a dez anos andavam de cabeça baixa e sussurrando seu ódio ao diferente agora o gritavam em alto e bom som.
Queria dizer que tudo mudou em um rompante e que por isso fora pegue de surpresa. Sabia que seria uma mentira e por isso precisava admitir, vira a golpe chegar. Há mais de três anos ele se anunciava. Agora, apenas amadureceu.
Mas tendo-o visto ou não, a sensação de dor era a mesma. Roubaram-lhe o que havia de mais sagrado. Sangraram-lhe o peito e escancararam a verdade: seus sonhos não valiam nada, sua luta fora em vão.
Era hora de dar dez passos atrás.

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