Recalculando o trajeto.

Todo satisfeito saiu do banho cheirando a sabonete líquido. Parou na frente do espelho, enxugou os cabelos, deu um sorriso para sua própria imagem e foi se arrumar.
Meia hora depois estava lá de calça jeans, uma blusa com um corte bacana e um sapato novinho em folha. Como ainda faltavam alguns minutos para a confraternização foi rever as orientações para chegar no local do evento que tinham sido passadas no grupo da rede social da turma dos tempos da escola.
Pegou todas as referências, reviu os melhores trajetos, estava tudo certo.
Resolveu limpar um pouco do espaço de armazenamento do celular para garantir que mais tarde não faltasse quando todos estivessem querendo guardar aquele momento.
Acabou parando na pasta de fotos do grupo.
Viu cada um dos colegas pelo menos uma centena de vezes, os menos populares não apareciam tanto, mas não menos que uma dúzia.
Depois de muito rolar as fotos achou-se uma única vez, uma foto bem antiga. Nunca tinha reparado como aqueles dois estavam sorrindo atrás dele. Pela primeira vez, via que ao lado deles tinha um pedaço de uma mão, e o dedo apontava para ele.
Vinte anos depois descobria que ele era o motivo do riso.
Colocou o celular no canto.
Desabotoou uma parte da blusa.
Entrou no carro.
A voz do Google maps só faltava gritar com ele de tantas vezes que teve que recalcular a rota.
Foi para qualquer lugar, contanto que não fosse perto deles.
Parece ter percebido, sua dignidade estava no outro extremo do mundo.

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