O último batismo.
As gotas voavam vorazes sobre o azulejo quebrado.
Mal terminavam de escorrer lá se vinha outra leva.
As mãos sujas e firmes sacudiam o pincel com a displicência mecânica de quem há muito já não se dava conta do que estava fazendo.
Os rostos tristes contemplavam pela última vez o corpo.
Há alguns momentos era o padre, com o baldinho e algumas plantas a aspergir a água sobre o caixão.
Há bem menos tempo ainda eram os olhos a jorrar o líquido sobre as faces rubras de dor, cansaço e saudade.
Agora era ele, uma versão grotesca da morte que levava nas mãos um caixote de madeira cheio de cimento.
Não usava preto, muito menos uma túnica.
O corpo quase desnudo fedendo a cachaça com apenas um chinelo de tira azul e encardido impediam o pé purulento com duas gazes amareladas de caminhar por aquele chão ausente de vida.
Seus movimentos rápidos logo deram por encerrado o assunto.
Fechou a tumba.
Cimentara o pai de alguém, o marido daquela, o amante da outra.
Não tava muito preocupado com isso.
A novela já ia começar.
Muiito envolvente. Quase não respirei até acabar. E desfecho massa, que é tua especialidade!
ResponderExcluir