O convite.

Duas doses de Chico, uma bela borrifada de perfume, mais um conferida no espelho, estava pronto.

Assim achava.

Carla era a mulher mais bonita do escritório. Estagiária novinha logo despertara o interesse de todo o macharal com o balançado bonito conseguido em anos de dança. O cabelo marrom anelado era todo medusa, não por ser algo do mal ou desgrenhado, pelo contrário mas era justamente esse contrário que tinha o poder de petrificar os que lhe olhavam.

Ele logo tinha todos os motivos para estranhar quando em meio a uma conversa ao lado da garrafa de café ela lhe deu dois sorrisos largos com direito a olhinho fechado e o dedo indicador enrolando os cachinhos do cabelo.

Só podia estar entendendo tudo errado - pensou - era feio, fraco e pobre. Entre todos os que estavam naquela repartição seria o último que ele mesmo daria uma chance caso fosse uma mulher.
Mas qual o que, lá estava ela, sempre aparecendo em seu computador, com as desculpas das mais tolas possíveis, cheia de dúvidas que claramente já sabia a resposta.

Conversaram vinte horas em um mês. O bate-papo já era regra ao abrir o pc, e foi nesse interim que ela o chamou pra sair.
Argumentou, se ressabiou, mas ouviu. Os colegas mal acreditaram quando ele todo envergonhado comentou sobre o que estava acontecendo. Chamaram-no de frouxo, idiota e fraco.

Ele resolveu por um ponto final naquilo, aceitou o convite. Ouviu duas doses de Chico Buarque, deu uma bela borrifada do perfume mais caro, mais um conferida no espelho, estava pronto.

Com o peito magro estufado percorreu todo o espaço do pequeno escritório, o cubículo nunca fora tão grande. Sentiu todos os olhos ao seu redor, chegou ao lado dela. Todos os truque de confiança foram para a lama ao lado daquela mulher. Mas sabia para o que tinha ido, e foi. Mostrou-se um belo de um "frouxo, idiota e fraco", mas fora fiel.

Não podia aceitar aquele convite, amava sua esposa, desejava-a como um faminto, era lhe grato e a admirava e não trocaria isso por um "forte, esperto e corajoso" amor sem lençóis.

Sentiu-se bem pelo convite, mas no final, a resposta era não.
Já tinha um amor, e um daqueles tão grandes que não deixa espaço para mais nada.
Nem mesmo para ouvir as piadas que lhe lançaram ou os apelidos que lhe deram.
Amava, isso bastava.

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