As-salam alaykom -parte I

Perdia-se olhando para as velas que vinham longe. Ao redor delas, pontos escuros no céu sempre limpo, as aves sabem onde está sua presa e como não poderia ser melhor se elas já estiverem presas... 
O pano branco da tenda dava-lhe a cobertura necessária para sobreviver ao causticante calor. 
- Cafè, s"il vous plâit.
O garçom moreno de olhos grandes e um nariz aduncou fez um meneio tão discreto com a cabeça que estava a ponto de repetir o pedido quando ele lhe deu as costas e saiu apressado, pé ante pé em passos curtos mas velozes.
Com o canto do olho percebeu a movimentação de seus convivas que ficaram admirados com a habilidade de sua pronuncia. Sempre se orgulhara da facilidade em aprender a língua dessas crianças.  
Tomou um susto quando reparou que a vela já havia percorrido pelo menos metade da distância até o porto. Os ventos hoje estavam favoráveis... Um bom sinal. 
Os outros ocupantes da mesa estavam inquietos. Talvez por nunca terem estado diante de uma oportunidade tão boa. 
Como são tolos os europeus. Crianças brincando de conhecer o mundo. Já a tanto tempo fazia esse comércio que já não lhe incomodavam mais os gritos e o choro. É tudo o balido do gado... estava rodeado de vacas, não se incomodaria em ordenhá-las um pouco. O primeiro leite da manhã é sempre o mais forte, já lhe ensinara seu pai. Então vamos provar o que esses fedorentos tem a oferecer. 

- Monsieur, votre café. 
- Shukran garçon, shukran.

Nunca fora adepto de repetir as palavras, elas eram importantes demais para serem gastas a toa, mas eles precisavam aprender lentamente, aqueles estrangeiros eram lentos de entendimento, mas todos sabemos que é preciso que aprendam a língua mãe de todas as línguas, a língua de Dihad, a língua do livro.

Mais dois cafés até a chegada do barco.
Podia sentir o fedor do medo deles aumentando ao seu lado. Sabia que aqueles porcos achavam que eram superiores, principalmente depois de terem acabado com o califado. Mal sabem eles que são como crianças nas mãos de um gigante. O deserto lhe dava forças, o litoral lhe dava asas. 

Ergueu dois dedos e o serviçal veio correndo.
Quase não conteve seu riso quando viu o desespero nos olhos dos convivas quando se levantou e com um movimento rápido sacou a espada que o servo erguia com as duas mãos.

Aasef meus amigos, não queria assustá-los. Agora levante-mo-nos, é hora de negociarmos.  

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