A demasia do excesso.

Estava cansado.
Não do trabalho, ele era bom.
Não da casa, la estava tudo certo.

Cansou do exagero.

De ver todos sempre tão hiperbolicamente felizes.
Não se tinham mais fins de semana legais. Eram sempre os mais memoráveis. Acompanhados por amigos? Não, pelos melhores do mundo. A turma mais "top"...
Nunca se estava triste.
Quando se admitia alguma dor, essa era a maior dor do mundo... Que se explodissem os sofrimentos dos famintos e dos lutuosos, nenhuma dor nunca seria dor maior...
Não se falava de política, torcia-se por ela.
Não se defendia um ponto, brigava-se por ele. E ai de quem ousasse discordar... Mesmo que com argumentos, era apenas a opinião...
Não conversavam mais, expunham aos gritos o que queriam.
Não se rezava, obrigava-se a Deus a prestar atenção, nem que para isso fosse preciso fazer o som da exigência chegar até a estratosfera.

Não via como seria possível, tanta taurina e tanto rivotril...

Talvez faltasse o movimento suave com a ponta do lábio mais que uma centena de dentes a mostra. Quem sabe um clássico e batido " eu te amo" sussurrado ao pé do ouvido ao invés de tantos pedidos virais de casamento que selavam uniões que gostariam alguns centenas de milhares para relacionamentos de seis meses...
Gritava-se demais. Falava-se de menos.
Impunha-se muito. Pedia-se pouco.

Eram hipérboles exageradamente hiperbólicas.
Era a demasia do excesso.

Tudo estava desembestado.
Alguém quebrou o freio de mão bem na descida da ladeira.

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