Walter e os agoras.

Correu desesperado pelo meio da floresta. Os passos apressados misturavam-se com saltos curtos para fugir das raízes e pedras que viravam armadilhas no meio do caminho. O vento raspava-lhe o corpo se prendendo um pouco mais apenas nos pelos que a puberdade lhe trouxera há algum tempo atrás.
Jogou-se com fome dentro da água.
Deixou o corpo boiar dentro do lago.
Sentia ali uma paz que a muito tempo não tinha.
O clima suave e ameno o fez repousar e descansar. Estava livre.
As mãos flutuando no meio da água coroavam braços estendidos em formato de cruz.

Viu o sono de Carlos ao levantar a força naquele dia, cada solavanco que o ônibus que ia pelas quadras deu, sentiu a topada dele logo na entrada da fábrica. Américo, responsável pelo abastecimento estava nervoso, a esposa estava atrasada há mais de mês, com o salário atual não dava pra sustentar uma criança, ela pensava em fugir. Mariana do controle de qualidade estava com cólica, Rafael do almoxarifado ia pedir demissão,...

Com os olhos arregalados afastou a mão urgentemente daquele saco plástico que lhe tocara.

Já faziam uns cinco anos desde que acontecera pela primeira vez.
Os objetos não são coisas para Walter cada uma delas é um sem número de pessoas, de vidas que se entrelaçam até aquele momento exato em que lhe tocam, e sempre que isso acontece, seus passados se tornam um grande agora. Todas as vidas, dores, apreensões, medos e alegrias, esperanças e amores se tornam uma pílula de vida que Walter é obrigado a tomar.

Por isso fugiu da civilização, por isso tentou se esconder. Não aguentava mais sentir, mas parecia impossível. Os agoras estavam sempre chegando.

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