Fim de tarde

O sol brilhava uma cor rosada, pintando o céu de laranja dando a tarde um ar de adeus. Aproximava-se o fim de mais uma tarde. A cor estranha e melancólica passava pelas venezianas da janela. Mesmo que não quisesse olhar, via através do espelho do guarda-roupas da filha, que a essa hora devia estar se divertindo na praia com as amigas do condomínio. Fugia da luz, fugia do adeus. Concentrara-se na tela preta do computador, preta, fosca, finita. Mas para que: Olhava com olhar de quem vê além, e via. Seu olhar atravessava as portas, as paredes e até mesmo os papéis do calendário. Se via com saudade. Saudade de risos felizes e sorrisos trocados, de confidências sussurradas e carinhos ofertados. Queria mais uma vez falar em amor, em carinho. Em sonhos que tiveram juntos.
Sentira a brisa fria, a porta da rua fora aberta. Em silêncio ele se fora. Era hora dele enfrentar a realidade.
Atravessara a soleira do quarto. Na cama, ainda de cabelos desfeitos e alça caída estava Júlia, a sua Júlia. Na cabeceira, o cordão de sementes que compraram juntos na última viajem que fizeram. Acima da borda da cama, a foto que tiraram há anos quando decidiram morar juntos. E há alguns minutos atrás, um amor.

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