Morreu Carlos...

Eram duas horas da tarde quando a musiquinha do plantão da tv tocou.

Morreu o deputado Carlos Cavalcanti, 62 anos, trinta deles dedicados a vida pública, passou por cinco presidentes, exerceu cargos de chefia em várias estatais, por três vezes fora ministro nas mais diversas pastas...
Comprara um palacete no interior do estado, tinha mais de quinze processos nas costas, fora visto com pelo menos cinco prostitutas no paraíso fiscal a dez anos atrás sem falar que depois descobriram que tudo fora pago com dinheiro publico, desviou verbas da merenda escolar. Já vai tarde. Horrorizada, Maria Helena, no auge de seus cabelos brancos olhou para o filho, com um ar atônito de quem havia acabado de intender tudo. Já vai tarde este filho de uma puta.
Abraçaram-se, juntos abriram a Sidra que estava guardada para o fim de ano.

Não foram os únicos, conseguiam ouvir fogos na rua.

A polícia fora mandada para intervir. Cacetetes argumentaram com bastante eloquência. Silêncio, afinal o país estava de luto oficial, três dias em honra ao filho da pátria.

Jornais, reportagens especiais, caderno duplo na edição do dia seguinte. Arquivo confidencial entrevistando os amigos e parentes.
Era um santo!

Enfim o povo pranteava como mandava o protocolo, nas calçadas dos bairros mais humildes só se fala em justiça, que o responsável pelo atentado não poderia ficar impune. Era um monstro!

Durante o almoço, cinco canais ao mesmo tempo gritavam ininterruptamente por duas horas
seguidas: Justiça. Polícia. Força. Dinheiro. Pena de morte!
E ai de quem realmente fez isso, seria uma sorte se já tivesse morrido.

Uma semana, só uma semana e a comemoração voltara, conseguiram reerguer a imagem do Congresso, morreu Carlos... viva Carlos! Dera um novo fôlego aos políticos.

Uma semana, justamente uma semana durou a festa, e aí, a musiquinha do plantão tocou de novo!

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