o chamado

Sete, oito... dez anos... não conseguia lembrar ao certo por quanto tempo ouvia aquele chamado.
Por vezes chegara a sentir a voz praticamente dentro dele. Por outras, o som distante parecia que ia se perder e aumentava dentro dele o sentido de urgência. Não podia deixar que se fosse.

Tentou por diversas vezes esquecer a voz, mas ela sempre reaparecia, ela sempre reaparecia.
Em determinado momento fingiu para si mesmo que não era nada, que não havia voz alguma, que tudo não passava de invenção de seus próprios sonhos e desejos... Eram dias tristes, solitários, reais...
Mas como sempre, ouvia o chamado e sentia o peito aquecer, sentia-se calmo, sentia que era o certo a se fazer.

Jogou tudo para o alto, correu o máximo que suas pernas conseguiam correr, enfrentou ladeiras, montanhas, riachos, vales secos, rios caudalosos e sol causticante, não sabia ao certo para onde ia, mas tinha a plena certeza de onde chegaria.

E chegou!

Escalara horas a fio, a mente pesava pela falta de ar, nunca tinha subido tão alto, estava no meio das nuvens e lá o chamado era ensurdecedor.

Chegou a beira do precipício, era de lá que vinha o chamado. Sentia o calor da presença dela, sabia que estava lá! Tentou ver em meio as brumas, sentiu-lhe o cheiro. Da ponta mais extrema gritou com todas as forças, um grito único que tornava todas as outras palavras desnecessárias, uma locução que lhe arrancaria a força do peito, uma frase que completaria nele a missão do dom da voz. Com a tranquilidade de um batedor na marca do pênalti em uma final no meio do estádio do adversário atravessou todo o temor e gritou: EU TE AMO!
.
..
...

O silêncio foi sua resposta... Voltou para casa, ou melhor, nunca voltou... uma parte de si, aquela que todos podiam tocar votou, o resto, não sabia onde estava, dentro de si apenas o silêncio ecoava.

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