Meus pêsames - parte III

-Vamos lá filhinha, faça mais um esforço... Isso. Que menininha obediente. Papai te ama sabia?
-Vem cá, deixa o papai escovar seu cabelinho vem. Nossa como ele cresceu esses dias em florzinha?
Seu cabelinho ta lindo.
- E essas unhas... ai ai ai, tão enormes. Pera, deixa eu pegar as coisas aqui para fazer as unhas.
Correu até o outro banheiro onde deixava todos os itens de higiene da pequenina. Tesoura, lixa, alicate, descarnador de cutícula, algodão, esmalte. Tudo ali.
- Muito bem, ficou aqui esperando o papai quietinha né?! Vamos arrumar essas unhas que quero você bem arrumada pra recebermos a visita mais tarde ta.
- Pronto. Agora vamos tratar de tirar esse cheiro né?! Quero você bem cheirosa filhinha.
Levantou-se, ligou o botão do exaustor. Quando ouviu o som constante das pás que levavam o vapor e o cheiro pra fora da sala. Cobriu as mãos com as luvas impermeáveis. Vestiu a máscara. Abriu a tampa da lata. Embebe o pano e começou a passar na criança. Sem reagir a menina foi banhada de alto a baixo pelo líquido. Depois de alguns minutos o pai se despiu das vestes de segurança. E começou a vestir a filha.
- Isso, cof.. cof... muito bem, cof.. cof... agora você já está bem apresentá.. cof.. cof... vel  minha lindinha.

O rangido da corrente de metal raspando nos canos ao redor da casa já era habitual e nem incomodava mais o Senhor Damasceno.
Empurrou o cadáver da filha até o centro da sala onde o heptagrama marcado com sal era protegido por uma estátua em cada ponta.

De uma lado Kali, a esposa de Sheeva com suas mãos armadas e seu dorso manchado de sangue. Na segunda ponta estava Yama, o primeiro vivente a espiar o caminho da morte, tornando-se por isso senhor de todos os mortos... assim os Vedas diziam...
Na terceira ponta um jovem alado com um coração de ferro e entranhas e bronze...
Na quarta, sentado com as pernas cruzadas e a careta de olhos puxados estava o shinigami...
Na seguinte estava o chacal com corpo de homem, na sexta o homem belo de roupas leves e barba longa: Hades, Por fim, estava a mulher vestida de azul mas com a caveira aparente, La Santa Muerte.

Damasceno arregaçou a manga e procurou algum lugar ainda não cortado do antebraço direito. Fez um corte fino e suave, mas que logo verteu sangue... O ritual começou. Ela tinha que despertar. Ela não gostava do frio... Ela precisava despertar... Ela temia o escuro... Ela iria despertar!

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