Neurosonho
Sentia o peito
inflado.
O coração
palpitava de forma frenética.
Os olhos enchiam-se
de alegria.
Aquele era o momento
pelo qual tanto esperara.
Erguia os braços e
começava a passear de um lado par ao outro transformando a alegria
em força para as pernas já tão cansadas dançando pela pista como
um avião.
Enfim sentiu a faixa
sendo ultrapassada!
Chegara.
O som da multidão
ao seu redor comemorando em jubilo a as vitória.
Cantavam
unissonamente seu... não... quem... como...espera... ESPERA!!!
- Senhor Macedo,
senhor Macedo. Calma.
Sentiu as mãos
firmes e a voz impositiva do enfermeiro sacudindo seu corpo
gigantesco.
Deu por si
completamente melado de baba que escorrera da boca aberta.
Não importava.
Tinha dado certo... pelo menos em parte.
Enfim, Carlos Macedo
de Almeida no auge de seus 250 quilos havia conseguido sentir na
própria pele o que era terminar uma corrida de uma maratona. O sonho
de uma vida, interrompido pelo tiro de um ativista pode enfim ser
realizado... melhor... pode enfim ser sentido, e mesmo sabendo que a
lesão espinhal continuava ali, Macedo aproveitou cada momento, cada
passada.
Os eletrodos da
experimental toca de neuroarquivos ligados em sua cabeça
transmitiam-lhe uma sensação única.
A tecnologia ainda
estava em fase de testes, mas pela primeira vez Macedo pode ser
aquilo que ele sempre quisera, e estava disposto a pagar o que fosse
preciso para sentir cada um de seus sonhos sendo colocados em
prática.
Talvez a vida imunda
e cheia de falcatruas de Albino Almeida tenha servido a alguma coisa
afinal. Agora quem sabe, o infeliz herdeiro da maior rede de
mercantis do país, que passou de um dos jovens mais desejados do
Brasil, a uma peça de circo dos horrores pudesse enfim ser novamente
feliz.
A esperança fez-lhe
chorar. E dessa vez, era de felicidade.
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