O vendedor

997, 998, 999, 5000.  - Tudo certo Quincas.
 -Você quer dizer senhor Joaquim Emanuel de Soloza e Albuquerque Lima II, não?
 -Sim, sim, evidentemente senhor Joaquim Emanuel de Soloza e Albuquerque Lima II, o valor está todo aqui, hoje mesmo começo os trabalhos. Em no máximo uma semana estará tudo pronto (assim espero, esses novos ricos são uma merda) entro em contato com o senhor. Mando um moleque em sua casa chamar-lhe.
 - Pois muito bem cabra. Ficando pronto mande o papel direto pelo pivete que tenho muito que fazer: navio para despachar, dinheiro para administrar, não posso perder tempo vindo resolver coisas triviais, num sabe?!
 - Justo, muito justo senhor, contudo gostaria que viesses aqui diretamente se possível. Sabe como é, é uma papelada importante e não seria interessante que acabasse parando onde não deve.
 - Com certeza. Você sabe que só o faço porque devemos reparar esse equívoco histórico num sabe? Sem falar que você prometeu sigilo total.
 - Uhum. (Meu deus, como tem gente que acredita nas próprias mentiras...)
 - Enfim, vou arribando voo porque tenho uma reunião na casa do novo governador. Sabe como é. Novos governos costumam procurar ajuda das pessoas mais importantes e influentes da sociedade. E quem sou eu para me negar a prestar auxílio a nosso jovem governo, é meu dever como parte integrante da história de nosso povo, sabe como é né?!
 - Com certeza, com certeza.
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Era o quinto essa semana, pelo menos conseguiria dinheiro suficiente para subornar os militares que deram o golpe (tenho que tomar cuidado com a boca... revolução... revolução). Enfim, o dinheiro desse merda vai ser o suficiente para garantir que a família não seja molestada por aqueles calhordas.
Uma revolução armada é muito bonita de se ver no papel, mas aqui, na vida real ela não tinha nada de interessante. Podia até ser boa para os comandantes que de longe ordenavam vida ou morte, mas para meros mortais com eu, não.

Eram trinta minutos de ônibus até a casa simples de periferia em que morava, mas era o melhor que conseguia pagar com o salário de cartógrafo, responsável pelos registros de nascimentos e catálogo de famílias. O percurso foi feito em duas horas, a pé. Os militares estavam bloqueando as estradas. Só conseguiu passar por que mostrou o passe que comprou de um capitão de bigodes grossos e longas suíças por três mil. Mas era preciso, na guerra muita gente morre, mas naquela, em especial, muita gente nascia. Só naquele mês sua pena fizera nascerem quatro novos “nobres” que usariam seus prestigio "familiares" para conseguir benesses do novo governo e legitimar seus papeis na nova elite dirigente da cidade... Fazer o que, era preciso ganhar a vida, não possuía nada de valor, não tinha nada que pudesse vender, a não ser o passado, a não ser a história.

Comentários

  1. Eita, muito forte. Na boa? dava pra tu escrever um bocado de contos com esse personagem. Eu acho que rendia ó. Vê aí. Gostei pacas.

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  2. Ps: Né Quincas Borbas não, né?
    Ps2: me veio essa: Cartografias Sociais

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  3. A minha ideia é meio essa mesmo Donio, esse personagem é um mote prum universo de conflito que to pensando aqui.

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