Ela voltou.
Sobre a cabeça a batida oca nas telhas de argila.
Ela chegou, este ano ela demorou, mas chegou.
e junto dela vieram as lembranças...elas sempre vêm.
Aguardava a sua chegada, pois sabia que despertaria essa sensação de temor e angustia que me acompanha a tantos anos. Na verdade não sei se a palavra correta é aguardava, muito bem poderia ser temia, receava, mas o que importa é que, agora que ela chegou, queria que fosse embora.
Ela? Ou as lembranças?
Sim, ela esteve lá em todos aqueles momentos que fizeram com que minha alma hoje tenha calos e rugas.
Ela esteve lá quando a oito, nove anos atrás, ainda quase uma criança deixava a casa de minha primeira namorada, com o peito apertado e os olhos rubros, ouvindo um constante e sempre audível -acabou...
Ela batia mansa e fina sobre mim. Acho que naquela hora, até ela sentiu pena de minha inocência e da forma cruel como aquilo me afetara, ainda não sabia como agir. Só deixei que ela me envolvesse e carregasse pra casa.
Quem dera tudo tivesse acabado aí.
Ela me acompanhou, enquanto crescia e sofria. Esteve presente em quase todas as minhas decepções.
Ela está lá, batendo, pedindo para entrar? Ou só me avisando que chegara e que não adiantava me esconder?
Ela estava lá quando eu voltava pedalando com fúria e angustia saído da auto-escola com mais um fracasso nas mãos e no peito. Misturava-se com a água de meus olhos....
Quando vi meu amigo despedir-se de seu pai, lá estava ela, me lembrando que a minha hora de dizer adeus também ia chegar...
Sinto o peito apertado. Ela continua lá em seu ritmo constante, me avisando: voltou.
Os fracassos foram poucos,comparados às suas conquistas. E algumas dessas decepções, se não tiveram jeito agora, um dia vão ter. Pra morte é que, de fato, não há saída, porque ela própria é a solução, então... Fica bem, amor. Afinal, foi você quem me fez gostar daquela música batida que diz "mas é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei..."
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