A mente viajada num misto de sono e cansaço. O olhar saltava de poste em poste. Eram os carneirinhos que lhe restavam. Lá fora a vida corria louca ao compasso da pressa. Há uma mão de distância, ele tentou saber o que se passava. Ela estava lá do outro lado. Ele queria descansar. Ela queria esgrimar palavras. Preferiu se deixar ser golpeado e dormir o sono dos derrotados. Afinal, só queria descansar.
Arrastou a mão pelo rosto para limpar a baba que escorria do sono ébrio. Sentiu a barba mal feita, a mais de mês não sabia o que era uma lâmina. A mente ainda turva. O corpo suado, ainda nu sobre os lençóis molhados de suor, mesmo do lado do ventilador Arno de pazinhas azuis do paupérrimo e minúsculo quarto em que se encontrava. Lentamente a cabeça retornava ao local. Esfregou os olhos vermelhos de álcool. Os pés sentiam o chão de cimento queimado esperando por uma vassoura, que certamente viria ao amanhecer, quando o movimento da casa amornasse. Persistia ao longe um som bonito e cadenciado de uma sanfona harmônica, dois outros três vozes trôpegas acompanhavam o som melodioso do já embriagado maestro. Ainda suado e babado vestiu as puídas peças de roupas que estavam no chão, ao lado das roupas miúdas de sua acompanhante que não estava mais lá. Não teve coragem de olhar. A íris já se acostumara com a escuridão quebrada apenas pela luz fraca e amarela do poste que entrava por uma b...
Sobre a cabeça a batida oca nas telhas de argila. Ela chegou, este ano ela demorou, mas chegou. e junto dela vieram as lembranças...elas sempre vêm. Aguardava a sua chegada, pois sabia que despertaria essa sensação de temor e angustia que me acompanha a tantos anos. Na verdade não sei se a palavra correta é aguardava, muito bem poderia ser temia, receava, mas o que importa é que, agora que ela chegou, queria que fosse embora. Ela? Ou as lembranças? Sim, ela esteve lá em todos aqueles momentos que fizeram com que minha alma hoje tenha calos e rugas. Ela esteve lá quando a oito, nove anos atrás, ainda quase uma criança deixava a casa de minha primeira namorada, com o peito apertado e os olhos rubros, ouvindo um constante e sempre audível -acabou... Ela batia mansa e fina sobre mim. Acho que naquela hora, até ela sentiu pena de minha inocência e da forma cruel como aquilo me afetara, ainda não sabia como agir. Só deixei que ela me envolvesse e carregasse pra casa. Quem dera tudo tivess...
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