Arrastou a mão pelo rosto para limpar a baba que escorria do sono ébrio. Sentiu a barba mal feita, a mais de mês não sabia o que era uma lâmina. A mente ainda turva. O corpo suado, ainda nu sobre os lençóis molhados de suor, mesmo do lado do ventilador Arno de pazinhas azuis do paupérrimo e minúsculo quarto em que se encontrava. Lentamente a cabeça retornava ao local. Esfregou os olhos vermelhos de álcool. Os pés sentiam o chão de cimento queimado esperando por uma vassoura, que certamente viria ao amanhecer, quando o movimento da casa amornasse. Persistia ao longe um som bonito e cadenciado de uma sanfona harmônica, dois outros três vozes trôpegas acompanhavam o som melodioso do já embriagado maestro. Ainda suado e babado vestiu as puídas peças de roupas que estavam no chão, ao lado das roupas miúdas de sua acompanhante que não estava mais lá. Não teve coragem de olhar. A íris já se acostumara com a escuridão quebrada apenas pela luz fraca e amarela do poste que entrava por uma b...
Era uma manhã de domingo como outra qualquer. Remexia papéis e cadernos velhos, procurava por referências, apontamentos e até mesmo uma dose de inspiração para as aulas que viriam daqui a pouco. Sempre vale a pena rever os papeis, sempre existem comentários esquecidos, anotações a serem repensadas e adaptadas para o presente. Contudo, não procurando, encontrei-me. Encontrei a mim mesmo de um modo que nunca fui mesmo tendo querido ser. Vi os rabiscos de fim de caderno, naquela última e surrada folha que recebia todo o descarrego das aulas enfadonhas, das tristezas de brincadeiras sofridas e até mesmo de amores não correspondidos. Vi-me toscamente rabiscado. Era um bombeiro de peito forte e cabeludo, tinha anos de corporação e voltara a cidade. Sim, voltara um herói. Ela reparava como tinha sido tola por ter-me deixado ir e voltava toda apaixonada e transformava o esnobado em carinho. Em outra era um diplomata, sonho antigo e ainda presente, noutro um astronauta, mais além,...
Os olhos semi-abertos - ou semi-cerrados - viam através de passagens inconstantes e inconsistentes a água lá fora. O calor provocado pelo abafamento das janelas fechadas o incomodara o suficiente para destituir-lhe do sono que tanto queria. - Que droga, justo hoje, não podia. Mas era verdade. Forçou-se a acordar. Ainda estava com aquela sensação de dormência, mas erguera-se, aprumara a coluna e agora não podia mais negar para si próprio, estava chovendo, e bastante. O ônibus estava quase vazio, mas o trocador fechara todas a janela, e passava budejando ao seu lado com uma flanela enchugando os bancos molhados por janelas que os passageiros "sem-querer" deixaram abertas. Bem, tinha que se arrumar para descer, no meio daquele temporal...por Deus... Bem, ainda faltavam umas seis paradas, então, nada melhor do que torcer. Ah, e quer saber, deveria ser contratado como torcedor oficial de qualquer time do Brasil, por que deu certo. Quando chegou a sua parada o céu ainda estava nubl...
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